ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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BABY, IT'S A WILD WORLD ( Paris, 1975 )

por José Luis Reboleira Alexandre



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Aproximava-se do fim o ano de 1975, inicio do mês de Dezembro, creio. Tez pintada dum vincado tom de moreno, resultado de 12 meses vividos em Angola, entre dramas (e que dramas, que não vou contar neste local) dos ex-colonos, e baptismos de luta armada urbana para a maioria de todos nós, membros da última vaga de militares que não tiveram direito à presença da filarmónica (entenda-se TV e outros que tais) na partida ou na chegada.
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Em Portugal o periodo do PREC estava no auge, o assalto ao poder local (alguns ainda andam por aí passados estes anos todos) da parte de alguns arrivistas era notório. Não seria na altura propriamente um jovem adolescente, mas mais um jovem adulto em que começava a instalar-se um certo desencanto por tudo o que via e sentia à minha volta.
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Possuía o meu primeiro passaporte, acabadinho de tirar em Luanda, com carácter de urgência, tudo facilitado pela troca de uns escudos da Europa por muitos de Angola. O câmbio foi péssimo, mas nesta vida tudo tem um custo, e em certos locais do globo diria que apenas de uma certa maneira se obtêm determinados serviços. Estava na hora de partir.
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O apelo da Cidade Luz era enorme, havia as razões que me empurravam para fora para qualquer lugar e as outras, muito fortes (le coeur a des raisons que la raison ne connait pas), que me chamavam para Paris. Passei pelos Claras, adquiri o bilhetinho e preparei-me para fazer aquela que seria a minha primeira grande viagem, para a qual fui de livre vontade. Mais ou menos 36 horas depois estava no local onde milhares de emigrantes lusos tinham chegado antes de mim. No meu insípido francês lá expliquei ao chauffeur de taxi, pied noir bien sur, para onde queria ir.
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Começava aqui o meu primeiro contacto, aos 24 anos, com nomes que ainda hoje defino como monstros da música. O prazer de ver, ao vivo, Léo Ferré, que só conhecia de disco, interpretar La Solitude, no Palais des Congrés foi o despertar para um tipo de existência que o meu País não me podia dar. Apesar de gostar da música deste autor, devo no entanto mencionar que foi mais por vontade da minha fiancée (agradeço-lhe lembrar-se ainda do nome da sala) que fui ao concerto, até porque a maioria dos textos me eram de dificil compreensão.
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Foi assim que em jeito de recompensa, e como o Cat Stevens também estava na cidade, que me foi oferecido um dos maiores extases musicais e uma das melhores recordações que ainda guardo. Um fim de tarde lá vamos para o Palais des Sports, na Porte de Versailles (mais uma vez agradeço à companheira o nome do local) e aí sim, perante milhares e milhares de jovens da nossa idade, ouvi ao vivo um dos meus ídolos, vestido de uma forma que denunciava o que viria mais tarde a acontecer em termos de religião. Ele que fizera despoletar, lá num baile de garagem em Salir, depois de um dia de praia de Agosto, uma história de felicidade que ainda hoje dura. Aquele que hoje se chama Yusuf Islam, e adoptou a cultura islâmica como forma de vida(e por isso é persona non grata nos States), proprocionou-me na altura o que ainda é hoje para mim o melhor momento musical da minha vida. Temas como Tea for Tillerman, Father and Son, Katmandu, Sad Lisa, Wild World, são ainda hoje presença quase constante na saída USB da minha viatura.
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Mas afinal Paris seria apenas uma etapa para uma viagem mais longa, com o atravessar do grande oceano e o estabelecimento, um pouco mais tarde, naquela que não é a minha segunda nem primeira pátria, mas apenas e tal como no que concerne o meu país de origem, a minha pátria.
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Quando no dia a dia de cada um de nós somos confrontados diariamente com a obrigação de falar duas ou três linguas simultâneamente, e de lidar diariamente com gentes de todas as latitudes, o resultado que se obtém ao fim de muitos anos não poderá de forma nenhuma ser o que se obteria se toda a nossa vida nos tivessemos apenas quedado pelo pequeno rectângulo delimitado pelo Atlântico e pela Espanha. Considero-me assim, e copiando as ideias de Amin Maalouf, que recentemente descobri (obrigado, Artur G.), o resultado de duas culturas.
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Outros concertos houve. Outros livros e alguns filmes, outras influências nos deixaram, mas nada nos marcou tanto como estes dois eventos, numa cidade que para mim, tinha muito mais luz naquela altura.
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J.L Reboleira Alexandre


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PS Podes juntar também o mail que recebi da fiancée onde ela me menciona os locais:
Olá Zé Luis,
Souvenirs, souvenirs.... Léo Ferré c'était au Palais des Congrès et Cat Stevens c'était au Palais des Sports (Porte de Versailles).
Que nous étions jeunes....
Beijinho, Mariazinha







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C O M E N T Á R I O S

Luisa disse...
Souvenirs,souvenirs...Todos temos souvenirs que o tempo vai limando,fazendo desaparecer as tragédias e deixando as boas recordações!E o Cat Stevens,que eu nunca vi ao vivo mas ouvi até saber de cor,especialmente este disco.Tenho ideia,pela referência a Salir do Porto,de já ter lido mais memórias do Reboleira Alexandre de que gostei e com que me identifiquei,temos um passado comum aí,embora eu vivesse nas Caldas.Beijinhos,Luisa.
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António disse...
O Cat Stevens(a quem chamávamos Gato Esteves) era um dos cantores e compositores que acompanhou a nossa juventude.Eu tinha poucos singles mas lembro-me de ouvir as suas músicas todas em casa de amigos e no rádio.
Mas este texto fala mais do que dos concertos,recorda um tempo difícil que alterou muitas vidas e deixou muitas cicatrizes.Não quero falar disso,mas fico feliz por saber que o autor deu a volta por cima de tudo isso.E o Canadá é um grande país!
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João Ramos Franco disse...
Caro José Luís Reboleira Alexandre, em quase toda a história que aqui contas, apesar de ter regressado de Angola em 1967, me encontro nas tuas palavras.
Quando regressei o sentimento de que este canto era apertado para mim também me assaltou e deambulei por essa Europa, um mês em Portugal uma semana em Paris, Londres ou Roma…A falta de espaço que sentia aqui era talvez diferente da tua, mas tinha de certeza em comum Angola e Caldas da Rainha e o resultado de duas culturas.
Um abraço amigo
João Ramos Franco
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jorge disse...
excelente relato,memórias muito interessantes de tempos cruciais para todas as nossas vidas.o fascínio de áfrica é só dos que conhecem,mas é para toda a vida.depois são as histórias da emigração,da saída de um país que nunca chegou para todos os que cá nascem.e a música marca sempre o tempo e acompanha as recordações.eu preferia o leo ferré...jorge
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J J disse...
O José Luis traz-nos sempre memórias muito vivas de alguém que viveu sempre a vida com entusiasmo e determinação. E ele escreve da mesma forma, não há azedume nas suas recordações dos maus momentos e respira-se alegria na sua descoberta do Mundo em Paris, incluindo os dois concertos que relata.
É esta descoberta de outros mundos que constitui esta série e por isso gostei tanto do seu depoimento.
Um abraço. JJ
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J. L. Reboleira Alexandre disse...
Quando no texto mencionava o início de Dezembro de 75, e dizia creio, a certeza das datas não existia. Para dar razão ao creio, bastou uma rápida pesquisa para encontrar este excerto do L' Express (leitura sempre actual e obrigatória) para perceber que afinal tudo se passou na última quinzena de Novembro, e este jovem teria apenas 23 anos. Razão tem a companheira quando repete que me estou sempre a fazer mais velho.
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«Une allée ouvre en deux la mer noire des 140 musiciens et choristes massés sur la scène du Palais des Congrès. Et Léo Ferré semble marcher sur les eaux. Lorsqu'il entre, il est échevelé, livide, sanglé dans un vague battle-dress couleur de suie, corseté d'arrogante humilité. Pour la première fois en France, il va diriger. Sans baguette, sans partition : "continuer d'apprendre sans savoir".
Allez ! Que caracole Coriolan, "Muss es sein, es muss sein" ("Cela doit-il être, cela est"), comme disait ce "sourdingue" de Beethoven. Voici le pianiste Dag Achatz, fidèlement manchot par respect pour Ravel et Ferré, qui concertise de la main gauche. Voilà "La chanson du mal aimé" d'Apollinaire, le bien-aimé.
Voilà d'autres chansons qu'il ne doit qu'à lui-même, poèmes rageurs et tendres qui parlent de "La Solitude", de "L'Oppression", des Amants tristes" ou de "La Mort des loups". Ces loups-là, "sans queue ni tête", ce sont Buffet et Bontems...
Le courant passe. Alors, Ferré, Saturne en chemisette, met des ailes à ses angoisses et renonce presque à la volupté de l'invective.
"la musique souvent me prend comme l'amour", a-t-il écrit. Au Palais des Congrès, jusqu'au 30 novembre, la musique, en effet, le prend, l'emporte, le métamorphose, le rend enfin "heureux comme un petit enfant candide". Et son bonheur est contagieux.
L'Express -Danièle Heymann(semaine du 17 au 23 novembre 1975)»
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O Jorge, no seu comentário, diz que preferia Ferré. A razão da minha escolha prendia-se mais com a dificuldade em entender o texto, que me impelia mais para as melodias de Brel ou Brassens, ou pela generalidade dos poetas anglo-saxónicos.
Hoje, ao abrir o album de 33 rotações La Solitude, não encontro o disco. Guardei a capa. Certamnente que, num passado já distante, tantas vezes entrou em contacto com a agulha que acabou no lixo. É que ainda hoje sou dos que pensam que não há qualidade musical como a reproduzida pelos velhos discos em vinil de 33 rotações.
Quanto ao acto de partir desse pequeno cantinho, normalmente é o resultado do somatório de várias razões que nos tiram daí, mas noto sempre que volto, que continua a existir uma certa imagem dos que se auto-exilaram, que não encontro noutras sociedades europeias. Em França por exemplo. Refiro aqui a título de informação que a maior comunidade imigrante em Montreal é recente, muito jovem, e de França. Nunca nenhum me mencionou ouvir, quando regressa a França, um certo tipo de frases, miserabilistas, que por veses escuto nas imensas visitas que faço á terra onde nasci.Penso que a razão terá a ver com os traumas que ficaram desde os inicios de 60, e ainda por cicatrizar. Será um problema mais cultural que genético.
Deixo no entanto a resposta para os especialistas, que não sou !
Abraço
J.L. Reboleira Alexandre

THE GRADUATE (1967)

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Este é verdadeiramente "um filme dos anos sessenta", incluindo o ócio e a insatisfação da abundância (quão longe estamos disso...), uma geração que não se revê nos valores dos pais, a dissociação romântica do sexo e do amor e os grandes espaços americanos (percorridos num descapotável de sonho, um Alfa Romeo Spider 1600 Duetto).




O filme, realizado por Mike Nicholls em 1967, é também o despontar de um grande actor, Dustin Hoffman, escolhido em detrimento de Robert Redford, abrindo caminho a uma nova geração de actores mais expressivos e menos decorativos, e a consagração de uma grande actriz, Anne Bancroft. É notória na forma de filmar, na construção e no desenvolvimento temático, na alteração da novela original e até no final indefinido, a influência da nouvelle vague francesa.




Por fim o filme tem uma das melhores bandas sonoras de sempre, da autoria de Paul Simon, interpretada por Simon & Garfunkel.


Estreado em Portugal no ano seguinte sob o título "A Primeira Noite" (com pequenos cortes da censura) marcou seguramente todos os que o viram nessa altura e é um dos filmes da nossa juventude. Embora inegavelmente datado, penso que é, ainda hoje, um objecto cinematográfico interessante.







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C O M E N T Á R I O S
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São Caixinha disse:
Por esta altura ainda só tinha visto o "Música no coração", mas é sempre um prazer recordar o "Graduate" que só vi muito mais tarde! Lembro-me ainda da voz de Benjamin Braddock naquela famosa frase: "Are you trying to seduce me, Mrs. Robison?"
Por curiosidade, do Capitão von Trapp não tenho memória!!

UM DIA NA VIDA (João Jales)

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Entrei na loja naquela quinta-feira cumprimentando quem estava, como habitualmente. Mas algo de estranho se passava, ninguém pareceu dar pela minha chegada porque, debruçados sobre o balcão e olhando para algo que eu não conseguia ver, alguns dos presentes diziam nomes, enquanto outros respondiam que sim e que não e que talvez… Todos quantos estavam na loja estavam nesse aglomerado de pessoas!
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O ambiente era ainda mais estranho porque do pick-up, colocado ali no canto à esquerda de quem entrava, jorrava uma dissonante melopeia oriental tocada por estranhos instrumentos que eu nunca tinha ouvido. Quem estaria a ouvir aquela bizarra música? Ninguém aparentemente, todos os clientes pareciam apenas atentos a uma grande fotografia colorida pousada em cima do balcão e diziam: Marilyn Monroe … Bucha e Estica… Marlon Brando... Tom Mix…
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Mas as coisas modificaram-se, a música tornou-se um Rock mais reconhecível, embora com arranjos diferentes, mais ambiciosos, do que eu estava habituado a ouvir; as vozes, essas eram fantásticas. Subitamente, um galo cantou…Um galo? Alguém, do grupo do balcão, se dirigiu ao disco que tocava e disse:
- Temos que ouvir o galo outra vez!
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Mas não conseguiu saber onde colocar a agulha porque não havia o habitual espaço entre músicas, elas sucediam-se ininterruptamente no disco e ele acabou por optar deixá-lo a tocar sem voltar atrás.
.Shirley Temple …. Diana Dors …. Einstein …. Marlene Dietrich …. nomes de artistas de cinema, escritores, cantores, políticos, a maioria por mim desconhecidos, continuavam a acompanhar o apontar de diversos locais da foto, mas o entusiasmo ia esmorecendo já que a tarefa ia ficando, aparentemente, mais difícil. Eu já entrevia a capa de um LP, igual aos do meu pai – eu só possuía EPs, menores e contendo apenas quatro músicas, mas nada parecido com o que ouvia agora! Depois de um estranho trecho orquestral terminar num inesperado estrondo, o Sr. Diogo virou o disco e, após o que parecia o ruído de uma pequena multidão num qualquer espectáculo, Paul McCartney começou a cantar “We’re Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band…”. Começava também assim um fascínio que não faria senão crescer durante 42 anos, que se completam no próximo dia 8 de Junho, o dia de 1967 que tudo isto se passou. Uma semana após o lançamento mundial do disco (1/6/67), ele estava disponível nas Caldas, o primeiro sinal que conheci da globalização.
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O meu pai tinha chegado entretanto à Tália e assistia, divertido, ao entusiasmo pelo objecto em causa. Os mais novos pela música, os mais velhos pela luxuriante capa onde estavam efectivamente representados seis dezenas de personalidades que os Beatles admiravam.
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Eu continuava a ouvir uma música irresistível, a sucessão de canções sem intervalo (coisa nunca vista) deixava-me sem respiração e, quando acabei de ouvir o segundo lado (que depois descobri ser o primeiro, ouvi o disco ao contrário) eu sabia que queria ouvir aquelas músicas para sempre e não apenas enquanto a Tália estivesse aberta… Foram duras as negociações familiares, os Beatles não eram um modelo que os nossos pais aprovassem, ao contrário de Cliff Richard, Pat Boone, Petula Clark, Adamo, etc. O grupo estava ligado à contestação de todo um modelo social e havia referências explícitas a drogas nas letras e no grafismo do disco (apesar de ter algumas reservas nessa altura em relação aos Beatles, o meu pai tornar-se-ia também um apreciador, mas mais tarde). O Sr. Nogueira acabou por salvar a situação sugerindo a abertura de uma conta em meu nome e deixando-me pagar a prestações os 188$50 que o LP custava. Como eu fazia anos no fim do mês, recebendo por isso cem escudos da minha generosa madrinha e outras importâncias menores de outros familiares, o meu pai autorizou a transacção. Fui a casa buscar cinquenta escudos (todo o dinheiro que possuía!) e, com essa entrada, formalizei o negócio e saí com um enorme envelope creme com o logótipo da Tália, dentro do qual estava o precioso “Sgt Pepper’s”.
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Tinha treze anos quando isto aconteceu e o disco em causa foi efectivamente o primeiro dos milhares que hoje desafiam qualquer arrumação e, embora tendo sido há muito expulsos (e eu com eles) da sala familiar, continuam a impossibilitar a ordenação e arranjo estético do espaço que eu ocupo em minha casa.
.A estes anos de distância vejo que este disco me deu uma perspectiva nova do que é a música, não simplesmente uma companhia ou um factor de convívio, mas uma nova dimensão em que é possível mergulhar com todos os sentidos. Cada canção correspondia a um pequeno filme que existia dentro de mim mas que só a música me fez descobrir. Auxiliado pelas letras inscritas no verso da capa (pela primeira vez na história da música gravada) voei com Lucy pelos céus (apesar de nem sonhar o que era LSD) e sentei-me com a Rita no seu sofá (sem saber que era uma mulher-polícia, as palavras das canções significam o que despertam em nós). Solidarizei-me com a adolescente que sai, chorosa mas decidida, de casa, apesar de todo o conforto material (She’s leaving home / After living alone / For so many years / Bye, bye – não fui copiar a lado nenhum, não foi preciso) e senti verdadeiramente que tudo era possível With a Little Help From My Friends e que esses amigos não viviam apenas nas Caldas da Rainha. Paul garantia: It’s Getting Better, e eu acreditava.
.Meditei longamente ao som dos 300 segundos (certos) do oriental Within or Without You, com as luzes apagadas e a persiana fechada enquanto dava finalmente uso a uns paus de incenso que a minha mãe tinha comprado algures, atingindo o mais absoluto nirvana e descobrindo que não há droga mais poderosa do que o nosso cérebro. Fui dançarino e malabarista ao som da música de circo de Mr Kite, fui uma vedeta de Rock fazendo coro com Lennon em Good Morning e com Paul no tema principal (de que eu preferia a 2ª versão, sem metais, no lado B) … Deslumbrei-me e intriguei-me eternamente (até hoje) com o incrível e indescritível A Day In The Life , apreciando pela primeira vez uma orquestra convencional e repetindo à exaustão a citação (talvez piada…) de Lennon de que o estrondo final do disco (quatro pianos percutidos simultaneamente uma só vez) era a tampa do sarcófago do conhecimento a fechar-se para a eternidade, deixando-nos nas trevas da ignorância… (eu tinha treze anos, queriam o quê, que não acreditasse no John Lennon?)
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Depois destas audições, nunca me agradou ver música acompanhada de filmes (os primeiros e incipientes videoclips são desta época), porque sempre preferi construir as minhas próprias imagens sobre a música de que realmente gosto. E tenho esboços de filmes que altero e refaço a cada audição dos Beatles, Bach, Beethoven ou Miles Davis … Alguns com pessoas, inventadas ou reais, outros quase abstractos.
.Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, apesar de frequentemente considerado e votado como tal, não é talvez o melhor disco da música popular do século XX nem sequer, na minha opinião, o melhor dos Beatles, mas contém a música que mudou a minha vida e me proporcionou os mais genuínos momentos de prazer musical que recordo ter experimentado. Só há uma primeira vez…
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João Jales



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C O M E N T Á R I O S
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Isabel X disse...
Face a este testemunho de JJ só posso reconhecer, uma vez mais, que tive uma adolescência muito amputada... Não me lembro de nada, mas absolutamente nada, que nessa época me tivesse suscitado semelhante dose de sentimentos.
Curiosamente, talvez por razões diversas, sinto grande afinidade com ele quando diz "porque sempre preferi construir as minhas próprias imagens...". Eu também, mas tal noção só me aconteceu muito mais tarde, por motivos muito diversos. Parabéns JJ, por teres tido uma adolescência assim tão marcante!
- Isabel X -
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Isabel Esse disse...
Sempre me lembro de ouvir falar do JJ como um maluco da música,não fico nada admirada por ter começado tão cedo a apreciá-la.
Os Beatles são um grupo sempre actual com uma música que não envelhece,embora eu não os conheça tão bem como o JJ.Ele deve conhecer tudo de cor!!!
Mais um artigo em que somos contagiados pelo entusiasmo do autor e em que ele consegue transmitir-nos o seu prazer e o seu gosto pelas coisas de que fala.
Isabel
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São Caixinha disse:
O teu notável gosto pela música e particularmente pelos Beatles faz-se bem sentir neste teu texto pleno de côr e vivacidade. Destemida e generosamente, entre notas de humor e ingenuidade, deixas-nos entrar no mundo privado da tua experiência da música. Surpreendente e admirável! O entusiamo é contagiante e provoca-me, para começar, preciosos momentos de nostalgia...mais tarde terei que ouvir o LP com atenção renovada!!!
Brilhante!!! Os meus parabéns!
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João Ramos Franco disse...
Entendo o teu encontro, “UM DIA NA VIDA (João Jales)”, como o espelho de toda uma geração que encontrou nos Beatles a imagem e a sonoridade da música, que de certo modo alterou o comportamento da juventude em determinada época. O modo como contas este episódio, citando outros cantores e músicas, anteriores, marcam bem como o sentias.
Claro está que estou a ver este episódio com a distância da idade que nos separa, eu já estava a cumprir serviço militar e tu ainda na idade de quem está sensível aos movimentos da tua época.A música e cantores do meu tempo, alguns, também me marcaram, mas de outro modo, que não vou agora contar pois iria desvendar o que tenho para escrever sobre este assunto…De qualquer modo, este dia da tua adolescência, está muito bem arrancado e mostra-nos a geração Beatles…
O sempre amigo
João Ramos Franco
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Luis disse:
Passei a noite de domingo a ouvir o meu velho exemplar do Srgt. Peppers...Não consigo fazer melhor elogio ao que escreveste!!!Luis
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Fernando disse:
(...) o que me impressionou foi o facto de me ter sentido quase como um habitué das Caldas dos 60, na pele de um pré-adolescente. Isso é que foi admirável e a responsabilidade foi tua.
Eu ouvi pela primeira vez algo do Pimenta na camarata do 6º ano, no colégio e pelo altifalante que também debitava o som da corneta da alvorada e as mensagens urgentes (felizmente que nessa ocasião os sons dos de Liverpool estavam destacados). Não ouvi o disco todo , mas fiquei também impressionado.
Claro que já tinha ouvido o Aftermath e o Paint it Black anteriormente... Para a compra, tinha a grande vantagem dos meus 16 anos, com uma semanada de 50 mil reis e algumas economias de lado. Foi canja e tenho pena de já não ter os acessórios.
"It was almost forty two years ago today."
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J L Reboleira Alexandre disse...
O menos que se pode dizer do JJ é que foi «musicalmente precoce». Aos 13 anos música lá em casa só se fosse a dum velho transistor comprado pelo meu pai nas Canárias, numa das suas inúmeras viagens pelo Atlântico.
O João, como é seu hábito, oferece-nos uma escrita que se lê «d' un trait» e nos transporta para outras épocas. A tal preferência que já na altura tinha em criar as suas imagens a partir dos sons que escolhia, reflete-se na facilidade que tem em partilhá-las com os seus leitores.
Foi pela mesma altura, com os meus cerca de 2 anos mais, que igualmente descobri os Fab Four, mas mais os Stones (não havia qualquer tipo de censura doméstica no meu caso...) apesar de me tocarem mais os intérpretes de baladas. Nomes como Mélanie Safka, (hoje apenas Mélanie)com a fabulosa interpretação de «What have they done with my song, Ma» ou Beautiful People, e outros nomes tais Baez, Dylan (que nas poucas palavras que menciona nos seus concertos actuais, pergunta sempre o que é que os jovens de 60 viam nele?), a extraordinária J. Joplin, o meu «conterrâneo» L. Cohen, enfim a lista é quase infinita. Hoje apenas Amy «vinho da casa» (não resisto à tradução, mas a culpa é dela), me confere emoções similares àquelas que me eram transmitidas pelas magnificas vozes de 60 ou inicio de 70.
Um abraço.
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ZE_MAS disse...
Esta é uma das grandes descrições que apareceram neste blogue.Pessoal e emocionante,só quem gosta MUITO de música consegue escrever assim sobre um grande momento musical como é o Sargento Pimenta.So discordamos porque eu acho que é mesmo o melhor disco do século,como a mais recente lista da Rolling Stone mostrou.Mas isso é outra discussão.Brilhante!Parabéns
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vitor b disse...
Eu já nem me lembro bem deste disco dos Beatles mas só de ler o que escreveste fiquei com vontade de o ouvir outra vez.Lembro-me do With a little help e do Lucy in the skye e do Strawberry fields...... Os discos na Tália eram realmente uma tentação inacessível porque os 188 escudos de que falas eram muito dinheiro naquela época,devias ter explicado isso melhor!
Esta série é uma boa ideia mas pode é haver falta de pessoas com a tua memória,como diz a Isabel Xavier.
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Luisa disse:
Como habitualmente gostei muito de ler a tua prosa. E há duas partes distintas,em que recordas a Tália e outra em que recordas o disco,que eu também ouvi sem parar numas férias em casa dos meus primos mas estou convencida que em 1968.E isso permitiu-me recordar as tuas citações das canções,noutro disco seria mais dificil!
Eu lia mais do que ouvia música mas,como outros comentadores,não tenho memórias tão boas como as tuas para contar...só impressões vagas e a certeza de ter gostado muito dos Cinco,os Sete,das Mulherzinhas,das Pupilas do Senhor Reitor,a Cidade e as Serras,etc.L
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António disse...
O JJ teve certamente um contacto maior do que eu com a musica e este disco em mais novo.Para conseguir falar dele desta forma não o conheceu em adulto onde,como ele próprio dá a entender nada nos impressiona desta maneira.
Gosto de ver a música do Beatles,de que os meus filhos com 20 anos tambem gostam recordada desta maneira.
Também gostei da parte da Tália(com o Diogo e o Sr. Nogueira)mas é realmente o final que torna este texto verdadeiramente real como se tivesse acontecido ontem. António
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farofia disse...
“Um Dia na Vida” simplesmente extraordinário! Entretidos com o reconhecimento do ‘Who is Who’ na capa do disco, os clientes desconstroem o puzzle até o galo cantar no prato… do pick-up, aparentemente alheios à música, tão bizarra quanto a capa.
Mas é a música que apaixona os treze anos, musicalmente precoces, do João Jales. É o ‘coup de foudre’ que dá asas à sua imaginação na arquitectura do plano económico financeiro capaz de sustentar-lhe o sonho.
Essa a conquista saborosa com início num dia de data marcada na vida, no tempo dos sonhos possíveis.
Como é "gostosa" esta história!
Inês
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Júlia R disse:
Como sempre,escreves duma maneira que dá gosto ler e mais uma vez me deliciei. Sente-se o teu gosto pela música, a vivência da tua juventude que deve ter sido fabulosa, todo o teu dinamismo que se nota ser inato, desde muito jovem.
Parabéns, fico contente por teres vivido tantas situações que te marcaram e contribuíram para que uma fase da tua vida, a adolescência, me pareça ter sido muito feliz .
Beijinhos. Júlia

MÚSICAS, FILMES E LIVROS


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Inicia-se hoje uma nova série sobre as Músicas, os Filmes e os Livros da nossa juventude.

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O objectivo é publicar textos, mais ou menos longos conforme a vontade dos autores, em que sejam referidos Músicas, Discos, Filmes ou Livros que marcaram a nossa juventude. A liberdade é total, podem escolher um ou vários títulos de cada uma das categorias mas peço que, se possível, não misturem os três temas no mesmo texto.

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A caricatura que abre esta série é, como já adivinharam, da São Caixinha e representa um “aluno desconhecido”, claramente indeciso entre estes três amores. Para ajudar a descobrir a escolha mais consensual decorre simultaneamente um pequeno inquérito, de fácil resposta, a que agradeço que respondam.

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Aguardo as vossas colaborações.

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JJ
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C O M E N T Á R I O S
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farofia disse...
O 'retrato' do João Jales dividido em três está o máximo! Segue um beijo para a São Caixinha da Inês

O PRIMEIRO DE VÁRIOS CASAMENTOS...





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O Padre Xico, marcou-me com "muita força”, como agora se costuma dizer, nos meus últimos anos no ERO.
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A minha admiração pelo Padre Xico foi tal que, quando me casei (diga-se agora que pela primeira de várias vezes), convidei-o para presidir à cerimónia que se realizou em Lisboa.

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No dia aprazado para o casamento estava eu, a noiva e todos os convidados no local da cerimónia, Capela do Palácio de Vale Flor, onde está agora um hotel. O Padre Xico nunca mais chegava, toda a gente ansiosa, o homem que ia tocar orgão a querer ir-se embora. Tudo a correr mal.

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Alguém vem ter comigo e pergunta-me:
- Foi nesta capela que disseste que te ias casar?

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Aí fez-se luz e conclui que tinha enganado o Padre Xico, levando-o para a Igreja da Memória, junto à Calçada da Ajuda. Lá vai o meu padrinho de casamento a voar até à Igreja da Memória, onde realmente estava o nosso padre Xico sentado com o seu sacristão à nossa espera.

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Quando chegou esperava eu levar uma grande reprimenda, o que seria inteiramente justo, eis quando se volta para mim e diz-me:
- Estás perdoado, porque hoje é o dia do teu casamento – Apesar disto, no final da cerimónia, volta-se para mim e afirma alto e bom som – Espero que a partir de agora tenhas juízo, o que eu não acredito. - Foi uma profecia...

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Este episódio comigo demonstra o grande espírito de bondade que o Padre Xico tem, que nos marcou a todos, primeiro só como professor e depois também como Director do nosso colégio.

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Já agora, seria bom que alguém com muito mais capacidade de escrita do que eu fizesse a demonstração do grande homem que é o Padre Xico, contando muitas das peripécias que tivemos com ele nas suas aulas. Diga-se que sempre foram boas peripécias.

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Já agora uma palavra para a São, que maravilhosa caricatura. Não pares, estas caricaturas são do melhor que consta no grande álbum de recordações que é este blog.

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Tó-Quim
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C O M E N T Á R I O S
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São Caixinha disse:
Muito engraçada a estória do Tó Quim sobre o Sr.Padre Xico e o seu primeiro casamento! Muito de acordo também com a memória que guardei dele!
Ainda não sou eu que vou escrever sobre as peripécias que se passavam nas aulas apenas porque não me lembro de nenhuma ... recordo sim que era uma pessoa jovial e bem disposta que parecia estar sempre de bem consigo e com o mundo!
Aproveito a oportunidade para agradecer as simpáticas e generosas palavras da Guidó, da Paulinha, da Fátima, da Julinha, do João Franco (...erro nenhum na minha opinião!!), da Laurinha e do Tó Quim! Tem sido um enorme prazer poder participar desta forma no blogue, acreditem! Ah... e creio que só se disse que esta foi a última caricatura DESTA SÉRIE...
Bjs para todos.
São

OS DEZ MAIS ...

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Sobre o Padre Chico não sei dizer muito e, o que sei, nunca conseguiria dizer tão bem como a Dra. Inês disse !

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Um homem muito simpático, sempre agradável e bem disposto que nunca vi zangado.

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Lembro-me do Padre Chico, visto pelos olhos da criança que eu era então, como um homem muito bonito e como tal entrava nas "listas dos 10+", lado a lado com actores de cinema tais como James Drury, o Santo e por aí fora...

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Tirava fotografias cheias de vida e esmerava-se a fazer composições muito harmoniosas e, tal como diz a Dra.Inês, onde ele era só o espectador... Graças ao Padre Chico, eu e a São temos fotografias da nossa infância que doutra forma não teríamos.

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Era também um enorme prazer ouvi-lo tocar viola !Um beijinho amigo ao Padre Chico

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Isabel Caixinha
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COMENTÁRIOS
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RockyBalbino disse...
Passei por aqui e vi as fotografias do meu antigo professor de Ciências Físico-Químicas, Jaime dos Reis Serafim, que não teve culpa nenhuma de eu ter sido sempre um nabo nessa disciplina :)Um abraço para si, estimado Professor. Sempre simpático, sempre aprumadinho, e sempre engraçado, até quando perdia a calma (e com muita razão!) por alguns alunos lhe entregarem os testes feitos em folhas soltas.Espero é que já tenha deixado de fumar, pela sua saúde! :)
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farofia disse...
Uai! Vinha só deixar um oh! que retrato tão bonito, a sépia! A São e a Isabel, 'infantas do Ortigão' numa obra-prima do fotógrafo de quem se fala. A pose da inocência e dou de caras com o comentário acima, clico Rocky Balbino! Chegou mais um aluno - que se esquecia de comprar as folhas de exercício... - welcome!
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João Ramos Franco disse...
Ao ver a vossa fotografia recordei-me que, nos comentários que tenho feito, tenho omitido as palavras de apreço que merecem as Caricaturas da São Caixinha. Peço desculpa por esta minha falta, se acaso tem desculpa!
Ao ver a galeria com nos tens presenteado devia falar com a artista, dizer-lhe que gostei imenso e agradecer-lhe a mais valia que tem prestado ao nosso blogue.Não sou um apologista do “mais vale tarde que nunca”, prefiro aceitar que cometi um erro e pedir desculpa.
O sempre amigo
João Ramos Franco

I BELIEVE IN ANGELS

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O Padre Francisco?! ! I believe in angels.
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Francisco, o padre da alegria, anda sempre a correr e quando chega, onde chega traz uma graça, como se uma janela se abrisse e o mundo fosse uma eterna dádiva de Deus!
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Nas mãos uma guitarra a pedir cânticos, ou simples cantigas. Entende a juventude por ser jovem, dispensa rituais de austeridade e ensina a vida, porque há que amar a vida! Nas mãos uma câmara fotográfica a recolher instantes da natureza, como uma abelha a namorar a flor, ou simples imagens, para lembrar neste futuro aquele passado. Ele ausente nas imagens, já que é ele o olhar com que nos vemos.
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Era Maio de 71 e eu ia deixar o ERO (ERRO, corrige o computador! faz sempre isto, em ‘word’ e eu corrijo, mas aqui em boa verdade não me apetecia corrigir… sniff! … pois, como o Jaime Serafim previra e prevenira, foi custoso deixar para trás essa fatia da vida). O meu marido tinha sido transferido para o Algarve e eu ia ficar até terminar o ano lectivo. Foi então que o Colégio, ou seja o seu Director Padre Francisco, me ‘emprestou dois pares de asas’, ou seja uma viagem de avião, Lisboa – Faro – Lisboa, para do longe fazer perto. (Um problema na chegada, quando a catraia ouviu “ Senhores passageiros, vamos aterrar em Lisboa” desatou a corrigir alto e bom som “vamos aterrar nas Caldas”)
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Obrigada, padre Francisco! Pelas asas e pelo testemunho de entrega total aos outros!
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I believe in angels, I do!
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Inês Figueiredo
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"I BELIEVE IN ANGELS..."

A ÚLTIMA CARICATURA

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Está é a última caricatura da São Caixinha que faltava publicar e que encerra esta série.
Não tem, por enquanto, qualquer texto para a acompanhar mas espero que os bloguistas tenham algo a dizer a dizer sobre o retratado!

JJ
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C O M E N T Á R I O S
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Júlia R disse:
Esta caricatura faz-me lembrar alguém.mas será quem estou a pensar?? Até estou impressionada com a elegância !!! Falta a barriga,a barba,os caracóis,está com um ar tão descansado e descontraído.....hoje está sempre atarefado,a correr dum lado para o outro "de carro",sem tempo para dar um ar da sua graça no blog,embora lá vá dar uma espreitadela e parece estar sempre a par das últimas noticias !Boa vidinha, a do colégio, hem!!!!!!
Olhe bem para esta foto e toca a fazer dieta....o semblante actual até dá um certo.....não digo !
São,terminaste em pleno as tuas fabulosas caricaturas,que pena não haver mais!Tens um jeitão,também quero uma...só peço que me não ponhas mais uns anos em cima!!!Querida amiga,Parabéns e muitos beijinhos.
Para o retratado,também muitos beijinhos e desta vez arranje um pouquinho de tempo para escrever umas linhas, OK?
Julinha
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Margarida Araújo disse:
Definitivamente uma grande caricaturista. Noto também em todas elas uma enorme ternura no traço. É o que me chega.
Beijo para a São.
Guidó.
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Maria Fatima Vieira disse:
Realmente, São, tens um traço excepcional, cada caricatura é superior a uma fotografia, a tua mão transpõe para o papel o que uma máquina e impressora não conseguem exprimir ....
Gostei de rever o Padre Xico.
Fáfá
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Paulinha P disse:
Claro que há imensas coisas a dizer do Padre Chico. O Padre Chico foi uma grande reviravolta no ERO, era mais brincalhão, mais permissivo, mais novo, como tal permitia-nos outras coisas que com o Padre Albino não era possivel sequer pensar.
Acho que foi um bom director e nós (ERO) estávamos a precisar de uma mudança, os tempos eram outros e o Padre Chico era mais...Moderno...sei lá...mais...tinha uma cabeça mais arejada é isso!
Quanto à caricatura está excelente como sempre, parabéns São.
Bjs PP
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Laurinha disse:
Quando saí do ERO, era ainda Director o Padre Albino. Perante a austeridade deste, o Padre Xico era o nosso protector e conselheiro. Um Homem simples, bom e sempre disposto a ajudar-nos.
Recordo com saudade, os passeios na mata, os acordes da viola e os jogos de ringue no intervalo maior da manhã.
A Inês Figueiredo descreve o Padre Xico na perfeição. Depois dessa narrativa, não encontro melhores palavras para o definir.
Agradeço à São pelas belas caricaturas com que nos brindou. Elas foram uma mais valia para ilustrar o nosso blog.
Para o Padre Xico, muitos beijinhos e votos de que arranje cinco minutos, para nos premiar com umas palavrinhas.
Laura

AS FOTOS DA INÊS (1969 / 2009 )
































































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C O M E N T Á R I O S :
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João Jales disse:
Cara Inês
Não sei se já se apercebeu bem das saudades que deixou nos alunos do ERO, não houve nos comentários exageros nem adulações.
Em pleno Summer of Love a sua forma de ser, estar e dar aulas em conjunto com o seu look, a sua idade e o contraste com os restantes professores fizeram de si " the right girl in the right place at the right time". Irrepetível, não programável, um acontecimento cósmico que desafia análises. Ou uma inevitabilidade histórica. Conforme as convicções de cada um.
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São Caixinha disse:
Foi um prazer ver as enternecedoras fotografias dos meninos, o resguardado jardim do colégio e o laboratório de Fisíca e Quimica (sim, ainda um prazer recordar a magia daquelas aulas, visto que o professor era o Dr. Serafim, de outro modo asseguro-vos que nunca poderia de algum modo associar a palavra "prazer" com lições de Quimica!!!)
E, finalmente, apreciaram como está surpreendentemente bem conservado o Sleepy?! Como se o tempo tivesse ficado parado à sua volta! Curiosamente... quase como a nossa professora!!! Por tudo isto e muito mais um beijinho de saudades para ela. Creio que vou ler tudo outra vez!!
"Goodnight, goodnight! Parting is such sweet sorrow, that I shall say goodnight till it be morrow." (Juliet)
São Caixinha
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Inês disse...
Bem posso matutar como vou sair desta overdose de mimo… ó gente, vamos com calma… estou no blogue dos alunos do ERO descoberto por milagre no dia 3 de Fevereiro, que me encantou pela beleza e vivacidade dos textos e me conquistou pelas fotos a preto e branco. Aluna não fui, mas aquela barra lateral esquerda tinha um convite irresistível… este era o blog com que eu nem nunca tinha sonhado, o blog do regresso a casa. My homepage!
E agora, agora não sei mais! sei que tenho o coração a doer de cheio de gratidão. E que desta vez não consigo responder como devia...
( só à Julinha, porque é uma resposta técnica: ‘farófia’ é o nome de utilizador com que entro no ‘wordpress’ – eu devia assinar Inês, mas às vezes até me esqueço)~
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Isabel Caixinha disse:
Que extraordinária descrição que a nossa querida Dra. Inês faz da viagem que a levou ao ERO e como se iniciou como professora...Que bom seria ler um livro inteirinho com estes componentes... santa catarina pirilim pepe, a loja das malas Tentação (ou seria a Pauisa?), o Central, as livrarias ...tchsss está lá tudo!
Que melhor forma de aprender inglês ...não só podemos usufruir da sua sabedoria assim como do seu tão especial humor e amizade.
Embora o Padre Albino não me inspire "positividade" alguma tenho que admitir que a ameaça dele teve consequências maravilhosas...
Um beijinho querido à Dra Inês e um obrigado por ter partilhado fotografias tão lindas!Isabel Caixinha
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João Ramos Franco disse...
Cara Dra. Inês
É normal em mim, quando não conheço as pessoas, guardar o meu comentário para o final. Esperar que os meus colegas da época referida comentem, para que possa tentar sentir e conhecer através deles, as palavras que irei escrever. Com certeza que as palavras de um aluno do ERO que foi colega do Jaime Serafim, só teriam sentido agora.
A gratidão que expressa nas suas palavras aos seus alunos, sinto-a como uma continuidade dos valores humanos que vós, como Professores, souberam transmitir e perpetuar e que eu sinto cada dia, deixando aqui o meu testemunho de agradecimento.
João Ramos Franco
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farofia disse...
(comentário-resposta ao comentário do João Ramos Franco)
João, agradeço as suas palavras tão generosas expressivas do apego aos valores humanos que nesta nossa geração todos recebemos e passamos como numa corrida de estafeta :)
Parece-me este mundo virtual em que nos movemos cada dia mais ágeis muito estimulante. Renovamo-nos, reciclamo-nos,fazemos amigos a partir de amigos - isto em linguagem matemática tem um termo próprio, ... bem, varreu-se-me o termo... - como quando iamos ao Café e com uma simples bica saboreávamos as conversas, da nossa mesa ou das outras...:)
pois aqui, à mesa do ERO, passe-se a correr ou fique-se um bocado, o tempo é bem passado!

AUTO RETRATO COM AGUARELA (Inês)










I ACTO - A ingénua dramática



All the world is a stage and all the men and women are merely players (W Shakespeare)

No teatro da vida há papéis que não se ensaiam, como há peças em que nem sabemos como fomos parar ao palco.

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Fiz-me professora num dia de Agosto de 1967. Na véspera um telefonema mandava-me comparecer no Externato Ramalho Ortigão de Caldas da Rainha, para fazer parte do júri de exames de admissão. Entre comboios, foi na estação do Rossio que comprei um Guia de Conversação Inglesa perfeitamente inútil e, enquanto a paisagem do Oeste corria pela janela, esforcei-me por recordar como era ser aluno de inglês a fazer uma prova oral, para poder imaginar como seria representar o papel ‘do lado de lá’ da secretária. Foi horrível! Inglês?! e Português e Francês e História!!! eu não sabia NADA de História! Mas ali estava no meio do palco a contracenar com o dr Serafim. O improviso correu-me bem, excepto… quando no silêncio grave e solene da cerimónia o meu estômago reclamou sonoro da fome (estupor! eu lá ia lembrar-me de comer num dia de estreia ). Grande actor, o dr. Serafim continuou imperturbável o seu papel, e a partir daí eu sabia que podia contar com a sua discrição.

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Por um acaso, logo, logo eu quis sair do elenco e foi então que o contra-regra, Pe Albino, ameaçou que me punha um processo em cima por incumprimento de contrato. Aí contei com muito mais, com o apoio do dr Serafim e da namoradinha, Esperança. “Vai ver que vai gostar do Colégio” sorriam eles. Acertaram! Não há ó gente, ó não, externato como o Ortigão!

II ACTO - A receita secreta

… aí pelo natal de 67, terminadas as reuniões de avaliação houve uma festinha e para meu espanto a ‘seriedade’ foi substituída pela alegria. Quando o elenco em coro entoou o hino de Santa Catarina, prlim, prlim pé pé, aqui a ‘ingénua dramática’ percebeu que havia alma naquela casa austera.

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As férias deram tréguas ao trabalho violento do 1º período: não era ‘pêra doce’ ter 7 variedades de serviço, 33 horas de aula por semana, substituir um dr Luís excelente professor… e continuar viva!

Como as filhoses o colégio tinha uma receita secreta: havia um cérebro, o Pe Albino, uma coluna vertebral, a Secretaria, dois braços e pernas executivos, o Serafim e o Lopes, um coração, Pe Renato & Pe Chico, os órgãos internos cada qual com sua função, ‘ los maestros’ e as células, os alunos. Eles, elas, as células, eram a razão de ser daquele corpo social, a escola. Uma escola como outra qualquer no Portugal de 60-70, mas com uma particularidade: era a nossa escola! Surpresa das surpresas, o EXTERNATO RAMALHO ORTIGÃO continua nosso, como se vê, vivo e fresquíssimo neste blog.

III ACTO - O Padre Renato

Por causa de uma figueira que vejo da minha janela, todos os anos me ocorre o pesadelo do Padre Renato: ‘quando às figueiras começam a nascer as folhas é sinal de que os exames estão perto!’ dizia nervoso. Era um sensível, um artista! Um barco só no areal da praia, virado ao mar, pronto a partir, é assim que o vejo na aguarela que me ofereceu.




E é com “arte” que termino, mas antes deixo-me passear pelas Caldas: a rua das montras, com as preciosidades da Tália , a loja da malas em frente, não recordo o nome – podia chamar-se Tentação. E as livrarias! céus, eu amava de paixão entrar na Parnaso, na Tertúlia. O tempo parava assim que, subidas as escadas de madeira, a porta abria e soava aquela campainha. Podia lá ficar horas a namorar os livros e num ‘compro-não-compro’ frente às reproduções de pintura. Na Praça, frequentava o Café Central das janelas imensas e baixo-relevo na parede e isso chegou a merecer uma discreta censura, meios «mal frequentados» diziam, «coisa de artistas e de reviralho».
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“O vagabundo das mão de ouro”, de Romeu Correia, que o CCC representava por essa altura, começava assim a cena I do primeiro acto “Mestre Albino! Mestre Albiiii…no!…” Inesquecíveis, os dois! Com um pequenino esforço até dá para os confundir, salvo o imenso respeito e admiração que sinto pelo Padre Albino. Ele entende.
(FIM)

INÊS

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COMENTÁRIOS

Manuela Gama Vieira disse:
Li com imenso gosto este “olhar” sobre o ERO da Dr.ª Inês, a minha saudosa Professora de Inglês e Alemão nos 6º e 7º anos.
Ainda bem que não se foi embora e que o simpático e solidário casal Serafim a apoiou, a perda seria nossa! Além do mais, a sua ida para o Colégio contribuiu para alguma mudança, que também se vai promovendo com a “presença” de pessoas diferentes, com uma "atitude" diferente, foi o caso.
Uma Professora competente, dedicada, jovem, gira, “pequenina” mas… “as mulheres não se medem aos palmos”! Uma Mulher inteligente, como de resto se infere das intervenções que tem feito aqui no blog, e das “escolhas” que faz ao acaso, como diz, mas não por acaso, digo eu, nos posts do seu blog “para dar as Boas Vindas a quem chega do Externato Ramalho Ortigão:)”. Que simpatia, Dr.ª Inês.
Uma agradável presença, a sua, no ERO! O seu “look” tinha a ver com a minha geração! O seu penteado à Rita Pavone, a saia travada, acima do joelho, o traço de eyeliner na pálpebra superior dos seus bonitos olhos, a sua jovialidade, absolutamente inolvidável!
E como poderia eu ficar indiferente à referência que faz ao P.e Renato (outro Professor que não esqueço) e à sua sensibilidade, própria de um espírito genial como era o dele!
A Drª Inês consta da lista de Professores de quem guardo gratas recordações...de outros, guardo lembranças.
Manuela Gama Vieira

A Manuela falou da Rita Pavone? Aqui têm o inesquecível CUORE.
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J J disse...
A entrada da Drª Inês no ERO em 1967 (dois meses depois da edição de "Sgt Pepper's...") representou, como já aqui foi referido, a chegada do espírito dos anos 60 ao Colégio. Tal como a entrada do novo director, em 1963, tinha representado a chegada da era vitoriana.
Saiu em 1971 mas não a perdemos, a Drª Inês transformou-se na "farofia" que comenta, com sensibilidade e entusiasmo, no nosso Blog e com quem eu troco umas humoradas e joviais mensagens àquelas horas em que as pessoas com juízo normalmente estão a dormir.
Obrigado Inês por esta partilha de reclamações estomacais, da estrutura biológica do Colégio e do barco do Padre Renato. Vá aparecendo, contamos consigo para animar este espaço de convívio!
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Isabel X disse...
Foi com a Dra. Inês que me iniciei na aprendizagem da língua inglesa. Formavam, para mim, um óptimo conjunto: professora e disciplina. Gostava muito de ambas. É extremamente gratificante voltar a encontrá-la aqui, Dra. Inês, transformada em "Farófia", sempre doce, e usufruir do seu convívio agora na forma de comentários subtis e inteligentes.
A imagem que nos dá da sua chegada ao colégio, com recurso a várias artes, encanta-me pela rara sensibilidade que dela emana. É sempre útil confrontarmo-nos com o "outro lado", neste caso, o lado da professora que chega e acaba por ficar no colégio, vinda do Algarve. Tão longe, naquele tempo! Afinal, todos temos tanto que contar e que aprender ainda!
Beijinhos.
- Isabel Xavier -
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Luisa disse:
Começo pela aguarela do Padre Renato que me despertou recordações de grande ternura. Agradeço ter partilhado esta imagem connosco.
A Drª. Inês foi efectivamente uma lufada de ar fresco no E.R.O. naqueles tempos,guardo uma memória dela de alegria,simpatia e dedicação aos alunos.Gostei muito de saber os pormenores da sua chegada ao Colégio,gostaria de saber o que é feito de si,já que o seu blogue não diz!!! Beijinhos,Luisa
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vasco disse...
depois disto digam-me que haverá mais para dizer? belo, bellissimo!
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Deolinda Pereira de Barros disse...
Leio sempre tudo o que vem no nosso Blog e é como se, a partir de então, pudesse assistir às etapas que queimei quando, por opção minha, deixei o ERO.
Obrigada a todos os que dinamizam e se mostram no Blog. Estes rápidos flashes de histórias de vida permitem-me ser melhor pessoa e transmitir mensagens úteis a todos aqueles jovens e adultos com quem trabalho.
Deolinda Pereira de Barros
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Luis disse...
O Inglês ensinado pela primeira vez pela Drª Inês(não me esqueci dessa!)permitiu-nos naquela altura começar a compreender um mundo onde essa língua começava a ser universal.E claro que a professora ajudou,com a sua simpatia,figura e boa vontade a que aprendessemos mais e melhor!
Gostei de ler uma descrição do E.R.O. vista de um lado diferente,já com o Dr. Serafim tinha havido um pouco disso.Espero que a escritora não se fique por aqui e atenda o pedido do JJ para continuar a animar o nosso blogue.L
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Julinha disse.
E assim vou conhecendo a Inês....não fui sua aluna mas até já tenho pena! Que maneira engraçada de descrever a sua entrada e permanência no colégio! A receita secreta... com cabeça,tronco e membros está uma delicia, aliás como todo o texto. Aquele quadro do P. Renato é lindo! Gosto sempre muito das suas intervenções no blog, admiro-a.
Há algo que me intriga....ainda não percebi porque a chamam "Farófia", deve ser pela razão de a não ter conhecido.
Júlia R
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Ana Carvalho disse:
Não consigo dizer mais nada do que aquilo que já foi escrito aqui, uma delicia ...realmente uma maravilha.
Obrigada Drª Inês, estamos à sua espera em Novembro para conversar pessoalmente, acredito que vai ser uma reunião muito agradável, a Drª Inês , o Dr. Serafim, o João...enfim muita conversa e muita recordação...nem sei se um dia chega.
Bjs PP
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Anabela Miguel disse:
Quem não gostaria de ter tido, naquela época, uma professora tão jovem e moderna como a Dra. Inês? Era mesmo um privilégio!!!Espalhava frescura e jovialidade naqueles corredores não muito agradáveis do ERO,onde se sentia uma certa austeridade...
Recordo-a, com se fosse hoje, encostada à sua secretária com a sua barriguinha de grávida, graciosa nos seus mini vestidos.
Mais uma vez um beijinho de amizade para si.
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Fáfá G V disse:
Das muitas palavras que foram escritas, e que eu li, revejo-me no carinho que sinto por si, querida Drª Inês, consigo aprendi muitas coisas e ainda recordo muitas das suas aulas!
Consigo e com o Sr. Padre Renato a vida teve e tem, mais encanto, como a bela aguarela tão bem ilustra.
Até breve
M. Fátima Mendes Gama Vieira
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São Caixinha disse:
Li e reli os 3 magnificos actos da peça que a nossa querida Dra. Inês nos conta, onde, à sua frente, tivemos o previlégio de actuar no nosso papel de alunos!! E que inesquecivel actuação a sua!!
Eu diria uma inevitabilidade histórica João, mas o acontecimento cósmico a desafiar analises também faz algum sentido para mim...
Conta-nos com muito humor a sua chegada ao ERO, fala de pequenas preciosidades como a loja das malas, das livrarias onde todos adorávamos perder-nos e partilha connosco a aguarela do Sr. Padre Renato, que adorei ver.
Curiosamente numa passagem pelo blogue dos Antigos Alunos da Escola deparei-me há uns tempos com outro desenho seu. Para os interessados dentro do tema Documentos - Mais um quadro do Padre Renato - acompanhado da estória que lhe pertence.
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Inês disse...
Bem posso matutar como vou sair desta overdose de mimo… ó gente, vamos com calma… estou no blogue dos alunos do ERO, descoberto por milagre no dia 3 de Fevereiro, que me encantou pela beleza e vivacidade dos textos e me conquistou pelas fotos a preto e branco. Aluna não fui, mas aquela barra lateral esquerda tinha um convite irresistível… este era o blog com que eu nem nunca tinha sonhado, o blog do regresso a casa. "My homepage"!
E agora, agora não sei mais! sei que tenho o coração a doer de cheio de gratidão. E que desta vez não consigo responder como devia...
( só à Julinha, porque é uma resposta técnica: ‘farófia’ é o nome de utilizador com que entro no ‘wordpress’ – eu devia assinar Inês, mas às vezes até me esqueço )
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Isabel disse...
Olá Drª Inês. Foi minha professora de literatura inglesa e alemão. Foi realmenta uma lufada de ar fresco, como alguém disse, que entrou no nosso colégio. As idades aproximavam-se e, por isso, lembro-me das conversas e desabafos que tinhamos na nossa turma do 6º e 7º ano (apenas 7 alunos).Que saudades!Um grande beijinho. Isabel Corredoura.