ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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C O M E N T Á R I O S
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Miguel Bento Monteiro disse:
Efectivamente estive naquele baile no Eurosol, mas fui no carro de um tipo muito mais velho que nós, casado com uma senhora de Óbidos e que costumava frequentar as Caldas e os inevitáveis bailes do Casino. Quanto a nomes já não me recordo, mas recordo bem o carro, um antiquíssimo 2Cv, cujos bancos de trás eram em lona e individuais, ou seja, o suporte dos dois bancos era formado por varões de aço, duríssimo, ou que o diga o meu rabo, pois a viagem de regresso foi feita precisamente em cima do espaço entre os bancos ( em cima dos ferros, portanto ) pois também o Citroen vinha sobrelotado. Curiosamente não me lembro com quem fui para Leiria, mas não foi neste carro.
Qto ao baile eu conhecia lá um borracho, de uma anterior ida a um chá dançante, chamado Rita, loura e muito interessante. Curiosamente vinha estudar para Lisboa nesse ano, mas disse que estava acompanhada e que eu zarpasse a alta velocidade. O 1111 estava realmente incompleto (fiquei a saber hoje porquê) mas o TZBrito deu um verdadeiro show de bola. Por coincidência conheço muito bem o irmão (via ténis) e os nossos filhos chegaram a jogar na mesma equipa nas camadas jovens. Mais tarde vi a banda completa num dos bailes de finalista que fui a Abrantes e realmente o Cid enchia o palco e a música que o 1111 tocava não tinha nada a ver com a dos seus discos. Tive um LP, um best of do 1111 e cuja faixa mais recente datava de 71. E era um excelente álbum.
Para terminar sabias que 1111 representava os últimos 4 algarismos do nº de telefone do Michel, o baterista? Costumo vê-lo tocar pois pertence a um grupo de rock oldies em que toca um amigo meu. Só tocam músicas cuja data é anterior a 31/12/1970, às 23.59, como ele próprio diz. E que o Michel é o Miguel, tratado daquela maneira pois é filho de uma belga.Abraços M
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Tó Zé Hipólito disse:
O PDI é tramado! Pois não me lembro de nada dessa ida a Leiria. No entanto relembro bem o ano que lá passei.
Foi um choque para mim viver nessa cidade (só no tamanho) pois habituado à vida das Caldas em que, a qualquer hora do dia ou da noite, se encontrava gente na rua ou nos cafés, deparar-me com uma "aldeia grande" que encerrava toda a vida às sete e meia da tarde, era dose. Era exasperante dar uma volta pelas ruas e não ver ninguém, excepto um ou outro solitário de meia-idade em algum dos poucos cafés que fechavam por volta da 22 H.
Apesar do cinema ter sido inaugurado nesse ano, só aos fins-de-semana tinha algum movimento, onde se verificava o formalismo já referido pelo JJ, em que as pessoas iam vestidas como se fossem para a ópera.
O que me valeu foi ter como colegas de turma alguns tipos porreiros, como o Rui e o Paulo Padinha (irmãos mais velhos da futura Doce) que conseguiram nas aulas, pôr o professor de português (uma personagem sisuda tipo padre Albino) a aprender a dançar rock ao som de Winchester Cathedral.

Mantive a actividade "matraquilheira" e jogava ténis no horroroso campo de alcatrão, mas só mais dois ou três carolas como eu o praticavam.
Aos fins de semana era "bem" ir para S. Pedro de Moel, mas era um ambiente muito queque para o meu gosto.
Ate à próxima.
AH
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João B Serra disse:
Não sei o que mais me agrada nesta Anna Karenina 2, se a impressiva comparação, vista pelos olhos de um observador perspicaz e culto, entre as duas cidades, se a cuidada narrativa dos encontros e desencontros amorosos dos dois jovens. A comparação é rica em elementos de análise e permite equacionar melhor esta questão que permanece em aberto: estando todos os indicadores de vida urbana a favor das Caldas até aos anos 60, por que motivo esta se atrasou tanto a partir daí, em relação a Leiria? Por outro lado, a bela história do romance falhado entre João e Teresa, não só retoma as lições da boa literatura, como ilustra, com os meios de expressão adequados, esta verdade de sempre: os rapazes andam em torno das raparigas mas não entendem nada delas. Claro que as amam, à sua maneira, as seduzem talvez, mas, para usar uma expressão de António Lobo Antunes (Visão, 31 de Julho) não descobrem como nelas se acendem as luzes e convencem-se de que têm os fios desligados.
Parabéns João. Gostei imenso desta história (e pode estar certo que eu separo a justa admiração da amizade).
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Laura Morgado disse:
O Jales habituou-nos às suas estórias, tão bem escritas que aparentam ser reais..
Espero que a inspiração não acabe, pois este episódio da Anna Karenina é uma delícia.
Verifica-se que a paixão pela menina era pouca e a amizade não era nenhuma. Então porque insistia? Para alimentar o seu ego, e divertir-se, o que era próprio de um rapaz da sua idade.
A coincidência do seu encontro com a Teresa, na última noite em que estiveram juntos, deve ter-lhe ensinado muita coisa e isso ele não contou.
Penso que a grande alegria que ela fingiu ter, nessa célebre noite, não foi mais do que uma vingança de todo o tempo perdido com ele.
O João só deve ter percebido que foi enganado por ela naquela noite, quando recebeu a fatídica carta, explicando a razão pela qual ela esteve disponível para ele.
Lastimo, deve ter sido uma grande dor para um jovem, mas foi merecida.
Laura Morgado
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Isabel Xavier disse:
Ah, esta Leiria provinciana e pacata que o Jales tão bem descreve! Aqui não há polémica possível: nos anos sessenta e setenta, Caldas batia Leiria aos pontos. Faz lembrar as descrições queirozianas, mas com amores menos trágicos, apesar de tudo, do que os do Crime do Padre Amaro.
O Jales tem essa capacidade rara de, além de nos "mostrar" um lugar e o que nele viveu, transmitir a atmosfera e o modo como a sentiu. Continua, que nós gostamos de ler, tu de escrever, isto é, temos público e romancista!
Quanto às inesperadas mudanças na Teresa, apenas uma hipótese: será que o namorado que ela encontrou entretanto, em vez de lhe falar de Dostoievski, a despertou de algum outro modo?- Isabel Xavier -
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Júlia Ribeiro disse:
Primeiro quero dar os parabéns ao João pelo excelente artigo e agradecer-lhe esta viagem.....que vou fazer até Leiria!
Será que me cruzei alguma vez com a Teresa? Se calhar ainda andámos de baloiço juntas ou no escorrega ou nos cavalinhos do carrossel...
Conheci Leiria quando criancinha porque os meus padrinhos residiram lá sempre, e do que me lembro nessa altura é do parque infantil e da casa deles que tinha espaço para brincar. Mais tarde, aos 10 anos, fui lá fazer o exame de admissão ao Liceu para entrar no ERO (com a D. Clarisse, minha professora em Óbidos) e depois fazer o exame do 2º ano. Lembro-me que, quando a minha turma estava a fazer esse exame, estava o Dr. Serafim a fazer o 7º.
Inicialmente íamos fazer exames no Liceu, só mais tarde começaram a ser no Colégio. Alguém sabe quando é que os exames passaram a ser nas Caldas? Talvez 1961, no novo edifício, porque em 1963 já lá fiz o 5º ano.
Quanto ás turmas, as minhas foram sempre mistas, com excepção do meu 5º ano. Só há pouco soube a razão: foi-me dito pela Drª Maria Alda Lopes que essa separação,no tempo do Padre António Emílio, visava obter um melhor aproveitamento dos alunos, com turmas mais pequenas. O que viria a dar resultado, pois as notas do colégio das Caldas eram uma referência no Liceu de Leiria.
Comecei a usar óculos aos 8 anos, o meu 1º oftalmologista foi em Leiria e durante alguns anos, mas não foi o teu Pai.....era uma senhora.
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Ana Carvalho disse:
Parabens João, mais uma vez divertiste-me imenso. Perdeu-se um escritor, um belo escritor, mas ainda vais a tempo de escrever um livro. Vá lá, pensa nisso, eu organizo a sessão de autógrafos no CCC.
Leiria era exactamente como tu a descreves, nem precisei de fechar os olhos para rever todos aqueles sitios e as pessoas. Sabes, eu quando fui para lá tambem vinha das Caldas, nunca me consegui habituar aquela gente nem aquela terra. Bjs.Espero mais capitulos. PP
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vitor b disse:
Tenho família em Leiria e ia lá passar alguns fins de semana e férias,uns anos antes disto.O cinema foi inaugurado pouco antes de eu ter ido para Coimbra estudar,antes só havia um barracão.O ambiente descrito é verdadeiro,Leiria era tristonha e parada quando comparada com as Caldas.
Os romances são o que são e o fim de um pode ser o início de outro(como parece ser sempre o caso do Jales...)O tal tumultuoso romance caldense será o tema da 3ª parte?
Está aqui um escritor que nos prende do princípio ao fim,muito bem doseadas as descrições com a narração.Não percebo nada disso,mas sei quando gosto de ler.
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Manuela Gama Vieira disse:
É curiosa a particularidade de os liceus não terem turmas mistas, ao contrário do "colégio de padres". Quando fui para as Caldas, ida do Liceu de Faro, assim era.
Quão belo o teu conto, e quão bela terá sido aquela noite! Pelo menos, "sente-se"... ao teu correr da pena.
Eis senão quando, no fim, foi instintivo o que pensei: "ora toma lá que já almoçaste!"
Vais desculpar-me....a culpa é toda do tal...SOFTWARE!!!!
.........................(horas depois)...........................
Estamos de acordo, se concordarem...que o vosso (masculino) HARDWARE....está muito aquém do nosso (feminino) software!!!!
Passo a explicar:Ora se "não descobrem como EM NÓS (não,nelas!) se acendem as luzes e convencem-se (POBRES COITADOS) de que os fios estão desligados (Não queriam mais nada???)...
Sou uma apaixonada pela obra de Lobo Antunes, leio com imenso interesse os EXCELENTES artigos de JBSerra e aprecio os teus notáveis dons para a escrita, EM SUMA, não quero ser desagradável, mas talvez não me tenha feito compreender quando referi o software....
O charme discreto das TIC!Um abraço grande! Manuela G V
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Luísa disse:
Temos que ver que em Leiria o ambiente era mais atrasado mas parecia haver mais dinheiro.E estavam lá a Igreja(o Bispo)o Governo Civil (com tudo o que este arrastava em relação a finanças, tribunal, etc)e o Liceu.Talvez não tenha havido dinamismo suficiente nas Caldas,mas Leiria tinha muitas vantagens.
O João e a Teresa vivem uma história de amor lembrando realmente mais as da Emily(preferida do autor) que as da Charlotte Bronte, porque,mais uma vez,termina em desencontro…. talvez o João Serra e o Lobo Antunes tenham razão….
Já me esquecia:ADOREI!!!
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jorge disse...
estou de acordo com o Serra e contigo sobre o mistério indecifrável que as mulheres são. mas olha que tenho a ideia que quanto mais envelheço pior as percebo,a minha juventude não foi a minha época mais obscura!a estória é magnífica,nem falo nisso,estamos tão mal habituados que já nem elogiamos!
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Isabel Knaff disse:
Ohh...este fim...
Que pena que tu e a Teresa não estiveram em sincronia desde o princípio.
Mas é claro, nestas idades dois adolescentes desenvolvem-se e modificam-se tanto, que não haveria software possível que te valesse!!!
E depois de uma quinta feira de Páscoa, geralmente tristes, também não ficarias mais optimista. ..
Desencontros...é o que é...quem os não teve ! Até se sente 'no ar' uma certa nostalgia!
Gostei de ler a comparação das duas cidades, e embora não tivesse conhecido Leiria dessa altura, foi como se lá tivesse estado.
Mais uma vez títulos de livros que eu tanto apreciei, e também a música do José Cid que vem soltar memórias bem giras e tão desse tempo.
Felizmente que encontraste entretanto o software necessário e todos os up dates que tanta falta te fizeram naquela altura....Uffff ...
Gostei imenso desta estória!
Beijinhos
Isabel Caixinha
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João Ramos Franco disse:
Após todos os comentários que li, e com os quais concordo, resta-me pouco assunto para comentar, mas parece-me que aquele sobre o qual eu vou escrever umas palavras ainda nenhum dos colegas falou.
Tu disseste “Era incapaz de sentir grandes emoções perante aqueles belos olhos negros e de apreciar, ainda menos elogiar, naquela idade, a ternura, a rara cumplicidade intelectual e a doçura de carácter da Teresa; eram difíceis para mim os elogios a aspectos que não a beleza física, os únicos que tinha aprendido como fazer nos livros e nos filmes”.
É uma realidade que, na juventude, só vemos a beleza física, erramos quando não vemos o aspecto intelectual e cultural, e às vezes, esquecemo-nos de que na vida suporte, amor e amizade são indispensáveis e um elo inseparável.
João Ramos Franco
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Anónimo disse:
Este Anna Karenina é mais escuro que o anterior,será do ambiente de Leiria?Mas concordo com o tal crítico,este episódio é mais coeso,lê-se de um fôlego.Muito bem escrito,por nos mostrar os cenários e estados de alma.
Essa questão do que os homens não sabem sobre as mulheres dava por si só um blogue.Muito grande!!!E com muitas perguntas e poucas respostas,seguramente…Para colaborar nesse,eu não sou voluntário.Luis
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Sao Caixinha disse:
Foi uma agradável surpresa quando esta manhã me deparei com a segunda parte da Anna Karenina! Outra estória tua de grande qualidade!
Gostei muito das descrições da cidade e suspeitava realmente que Leiria fosse como descreves apesar de eu só ter estado de passagem...tenho sempre muita admiração por pessoas que se dedicam com tanta dedicação á leitura (eu que só leio livros de cozinha!!) ...o fim... muito próprio de se ser adolescente e um fim feliz na minha opinião... já que como a atracção não conseguiu ser simultânea, cada um ficou livre para novas e mais favoráveis oportunidades! Os meus parabéns!!
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FáFá G Vieira disse:
Relativamente à comparação entre Leiria e as Caldas concordo. A nossa cidade era mais aberta e mais alegre, desde a Praça ao Parque .
Tive pena que tivessem "destruído" o Teatro Pinheiro Chagas onde pela 1ªvez ouvi uma orquestra tocar ao vivo,a "Orquestra da Emissora Nacional",dirigida pelo Maestro José Atlalaya. Que belo diálogo entre nós e o Maestro,a plateia era jovem e até cantámos,a 9ªSinfonia de Bethoven é admirável.
Ainda hoje te digo que a nossa cidade era mais jovem, pelas suas características permitia um convívio mais saudável e mais próximo, até com as pessoas mais velhas. Leiria era uma cidade mais fechada.
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PEQUENA NOTA À QUESTÃO DO ENSINO MISTO (João Serra)
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Peço licença para uma pequena nota, sobre um tema que não é essencial à narrativa (e sobre cujo conteúdo já me pronunciei).Trata-se da questão do ensino misto. Em 1962/1963, ano em que frequentei o antigo 5º ano, havia duas turmas no Externato R. O.: uma masculina e outra feminina. Não posso afirmar que fosse esse o critério sempre utilizado no colégo para dividir turmas, mas, neste caso o critério usado foi, como agora se diz, o do género.
Em suma, não estou certo de que o ambiente no Ero fosse mais favorável à chamada co-educação do que nos liceus, designadamente no liceu de Leiria. O que sucedia é que, no caso do ERO, excepto nos anos de exame, só havia alunos para formar uma turma e, nesse caso, a legislação autorizava a coeducação.
Também não penso que Leiria fosse diferente do panorama nacional. Fui professor de liceu entre 1970 e 1978, em Castelo Branco e Lisboa, e posso testemunhar que a coeducação era evitada sempre que possível. O Liceu Padre António Vieira, na zona de Alvalade, onde leccionei seis daqueles oito anos,só depois do 25 de Abril admitiu raparigas, sendo anteriormente uma escola apenas aberta à matrícula de rapazes. E Lisboa não era propriamente Leiria...
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João Jales disse:
Quando referi no texto a questão das turmas mistas, falei da minha experiência pessoal no ERO. Tanto na Instrução Primária como depois nos sete anos de Ensino Liceal que lá passei estive sempre incluído em turmas mistas, em anos de exame ou não. Além dessa turma de 5º Ano em 1962/63 de que o João fala, houve mais turmas unisexo?
A Júlia refere que também só no 5º ano a sua turma foi separada, de resto teve sempre turmas mistas. Essas turmas de 5º foram efectivamente uma excepção, já que os alunos mais novos estiveram sempre em turmas mistas (5º ano incluído).
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farofia disse...
oh! destino cruel, oh! coração estilhaçado! no, not again!
E não é que me deixei levar por estes amores doce-amargo, como se fora história a sério, o eterno retorno das Aventuras de Tom Sawyer e Huckleberry Finn, versão 1969 !!!De tantas e tantas pérolas incrustadas nesta jóia preciosa retenho que «os rapazes não têm software para compreender as modificações das mulheres, as suas transformações ao longo de um ano (nem de um dia...) ou para prever o que as leva às lágrimas ou à inexplicável alegria»...
acrescento que nem as próprias mulheres trazem esse software incorporado, como se sabe.

Homenagem do Rotary Clube das Caldas da Rainha ao Dr. Mário Gonçalves




O Dr. Mário Gonçalves foi homenageado como profissional do Ano 2008, pelo Rotary Clube das Caldas da Rainha. A homenagem decorreu no restaurante Lareira, no passado dia 27 de Outubro, durante o jantar. À grande quantidade de rotários presentes, juntou-se uma ainda maior quantidade de amigos, que o Dr. Mário Gonçalves foi fazendo ao longo da vida, nas diversas actividades a que esteve (ou está) ligado.

A cerimónia contou com a presença do Presidente da Câmara das Caldas da Rainha que integrou a mesa principal onde se sentaram o homenageado, o presidente do Rotary Clube das Caldas, as respectivas esposas e a homenageada do ano de 2007, a livreira Isabel Castanheira.

Após a saudação das bandeiras, o rotário mais antigo do núcleo caldense, Dr. Rogério Caiado, leu o notável currículo do Dr. Mário Gonçalves e a Sra. D. Isabel Castanheira leu o” suporte de linho” oferecido ao homenageado.

Tomou, então, a palavra o Dr. Mário Gonçalves que destacou a missão solidária e o carácter humanista dos rotários e agradeceu a todos os presentes em geral, e aos rotários em particular, a homenagem de que era alvo. Neste contexto, referenciou a proximidade da Comemoração (10 de Dezembro) dos Sessenta Anos da Declaração dos Direitos Humanos. Agradeceu ainda, comovidamente, à sua família e, de modo especial à esposa, Sra. D. Ana Maria, o apoio com que sempre tem contado. Falou em “Tesouro de Afectos” para referenciar o valor que a amizade tem na sua vida.

Seguiram-se várias intervenções: Dr. Vogado; Dra. Marinela; Dr. Vasco Trancoso; Dra. Isabel Xavier; Dr. Gaspar; Sr. Hermínio de Oliveira e Sr. Presidente da Câmara, Dr. Fernando Costa. Todos e cada um destacaram as qualidades humanas, cívicas e profissionais do Dr. Mário Gonçalves, que a todos abraçou e agradeceu emocionado as palavras amigas que haviam proferido.

Houve ainda um momento alto, protagonizado pelo Grupo Coral do Pessoal do Centro Hospitalar das Caldas da Rainha, que cantou um alegre reportório muito aplaudido pelos presentes e, uma vez mais, agradecido pelo homenageado.



Foi uma noite de emoções, amizade e festa, bem demonstrativas da justiça e oportunidade desta homenagem e consequente momento de convívio proporcionado pelos rotários caldenses. Como alguém disse na sua intervenção, para além do “Profissional do Ano”, todos nos encontrávamos ali a homenagear o “Cidadão de Sempre” : o Dr. Mário Gonçalves.
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COMENTÁRIOS

João Jales disse:

Mesmo que assim não fosse, teria todo o cabimento mencionar aqui no Blog mais esta justa homenagem ao Dr. Mário Gonçalves, mas ele é, como todos sabem, um antigo aluno do Externato Ramalho Ortigão. E isso faz com que partilhemos todos um pouco desta honra, já que ele foi formado no mesmo Colégio que todos nós. É uma partilha abusiva, já que o mérito é pessoal, mas estou certo que ele nos desculpará.

Ana Maria e Mário Gonçalves em 1948 no ERO (fila inferior, 2 e 3 ).
António José Lopes, ao meio em cima.
Encontro de Antigos Alunos do ERO em 1988, no Parque.
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Gostaria de remeter todos os interessados para um artigo publicado pelo João Bonifácio Serra , Cidadão Mário Gonçalves ,
onde há também uma menção à bibliografia disponível sobre este Cidadão e Médico a quem as Caldas tanto devem.
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SALA DE AULAS (1965/1966)

A nova imagem do Blog faz parte de uma série de 5 fotografias tiradas pelo padre Xico à turma do sexto ano do ERO em 1965/66. Pertencem à colecção de uma antiga colaboradora deste Blog, a Ana Nascimento, hoje já retirada.
Procuro uma legenda para a turma inteira. Ou por filas de carteiras ou por fotos, conforme preferirem. JJ


Com a colaboração de todos foi possível chegar aqui:
Manuela GV:
Foto 1:1ª fila à direita: Canhão (de mãos cruzadas em cima da carteira)

Deolinda Monteiro disse:
À frente está o marido da Emiliana que também era desta turma. A Guida, que vivia numa vivenda quase em frente aos manos Vieiras Pereiras, é essa última encostada à parede com a mão na cara. À frente dela está a Ilda Lourenço, de cabelo armado. À frente da Ilda, está a Ana e ao lado dela, está a Amélia. O irmão dela também era da mesma turma. O mais robusto era o Ganhão (?). Há muita gente, nomeadamente a Helena Arroz que também não aparece, capazes de identificarem todos. A Isabel Castanheira era desta turma. Não sei já os apelidos. Desta turma era também a Eduarda Rosa que provavelmente já tinha vindo para Lisboa. O ano deve ser 1966 ou 67... Tenho também algumas fotografias. Quando for a Almeida vou trazê-las e mando para o Blog.
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Isabel Xavier disse:
À esquerda é o meu irmão Luís. O de óculos e pose esquisita não sei quem é. À frente desse é o Tozé Rêgo Filipe.
Manuela GV disse:
Foto 3 - 3º aluno da fila dos rapazes, o Luís Sério, dos Baraçais, Bombarral
Aqui vai o meu modesto contributo, tirando a Ana Nascimento que já identificaram, não reconheço à primeira vista, mais ninguém .


Guida Roberto Santos disse:

Acho que posso dar uma ajuda na identificação do pessoalzinho das fotografias:

Na fila junto das janelas, a começar do fundo, está a Isabelinha do Bombarral, à frente a Ana Vieira Lino. Na fila do lado, também a começar do fundo, estou eu, Guida Roberto Santos (a tal da vivenda +/- em frente das manas Vieira Pereira); logo a seguir a Graça Soeiro, a nossa açoreana "corisca mal amanhada" de totó no alto da cabeça (Não, Deolinda, essa não é a Ilda Lourenço. Andas com falta de memória, minha querida!). Logo a seguir está a Ana Gil.


Na 3ª fila, estão o Rego Filipe, João Manuel Toscano, António Manuel Canhão, Amélia Teotónio e Nicolau.


A 4ª fila começa com o João Licínio, Luis Xavier e Fernando Preto Ramos.


Na fila seguinte temos o Tó Zé Canhão, o Araújo e o Vítor Coutinho.


No último lugar da fila junto à parede, ao fundo, está o Xico Zé Fêo(?) e Torres.


A primeira da frente junto da janela é a Manela Vieira Pereira seguida da Ana Nascimento.Dos outros não recordo os nomes. As minhas desculpas. Guida Roberto Santos

REACÇÕES,MENSAGENS E COMENTÁRIOS À PUBLICAÇÃO DAS FOTOGRAFIAS DE "SALA DE AULAS (1965/1966) "

Uma chuva de emails (e até telefonemas), o "regresso" da Ana e centenas de visitas nestes dois dias mostram que esta publicação foi um êxito! JJ
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Amélia Viana disse:
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Olá JJ
Estou recém chegada de Macau, onde fui em "romagem de saudade" (vivi lá de1988 a 92) e ainda ando com os sonos baralhados ,efeitos do jet lag. Fiquei bastante emocionada ao ver a foto da turma. Não chegou a sair a lágrimazita porque envergonhada,ficou escondida ao canto do olho.
Quando me propunha dar resposta ao teu apelo com um pequeno contributo,(porque a memória já não é o que era) para a identificação,eis que surge o esquema da aula feito de forma brilhante, graças a ti e à prodigiosa memória dos colegas que felizmente ainda não foram visitados pelo "primo alemão". És de facto um génio,tens conseguido mexer com tudo e com todos!!!A tua iniciativa, o teu dinamismo, o teu empenho, a tua capacidade de ir ao encontro das emoções e recordações de todo mundo ,dos mais novos aos mais velhos, tem sido inexcedível.As tuas estórias e as dos outros, que tens arrastado para nosso conhecimento, têm-me deliciado.Queremos mais!!!
Foram e continuam a ser momentos maravilhosos, estes que nos tens proporcionado ao longo da já longa vida do nosso blog. Parabéns e um grande Bem Haja.
Um beijinho para ti e um abraço do tamanho do mundo para todos os colegas.
Amélia
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Sabendo que não publiquei, ou só publiquei parcialmente, algumas mensagens, e omiti várias identificações erradas (até entre irmãos, as partidas que a memória nos prega!), a Guida Santos repreendeu-me severamente. Ela que foi, justiça lhe seja feita, a grande animadora de todo este assunto:
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Guida Santos disse:
Fazes mal não publicar isto no blogue, JJ. Estas coisas até têm graça e dão uma lufada de ar fresco ao nosso blogue.
Não sejas tão "sério". Um pouquinho de inconveniência dá um certo tempero à coisa. Fala a sagitariana.
Já agora, eu também era de letras como a Graça e passámos bons momentos por lá com o Toscano que era o único macho da turma. Pobrecito! Fizemos-lhe a vida num inferno.
A Isabelinha também pertencia à turma de letras, agora é enfermeira no IPO em Lisboa. Não a vejo há milénios.
Também fiz parte da turma da Lena Arroz, Bonifácio, Júlio, Emiliana (que andou comigo desde a 1ª classe), Lena VP, Ilda e João Lourenço, Chico Vieira Lino, etc. Acontece que chumbei a letras na oral do 5º ano e fiquei um ano atrás. Mas tudo bem, ainda apanhei o Anacleto Batata e o Zé Mendoça (ganda maluco!). E conviver com os mais novos foi muito fixe.
Sinceramente, gostava muito de reencontrar o Carrilho. Espero que ele cá venha em breve. Assim como o Preto Ramos, o Fiandeiro, o Batata, o Zé Mendoça, enfim, nunca mais acabava.
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António Araújo Carrilho disse:
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Caro João Jales:
Não sabes a alegria que me deste neste dia cinzento de Madrid.Confesso que não me lembrava de alguns nomes, mas a Guida Santos fez uma identificação perfeita e refrescou-me as neuronas.Parabéns pelo teu trabalho ao serviço da recuperação da memória da nossa juventude.
Beijos e abraços para todos os meus companheiros e companheiras de turma.
Um abraço, António Araújo Carrilho
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Ana Nacimento respondeu:
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Oh Carrilhinho ou melhor … oh menino António Araújo Pires Carrilho Tomás, então e tu não terás por aí umas fotos?Alguém disse que eras “o dos olhos bonitos” e eu acrescento: - um dos melhores alunos que pode não ter fotografias mas diplomas tem de certeza…..Amigo, que contente fiquei quando vi que finalmente entraste no blog…. tenho saudades vossas e não esqueço os bons momentos que passei com vocês.Beijinhos para ti e para as tuas meninas.Ana

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Ana Nascimento disse:
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Olha miúdo, estas fotografias não foram tiradas pelo Padre Xico, embora ele fosse o nosso fotógrafo oficial, mas sim pelo Padre Fernando Maria de Carvalho que nos dava Religião e Moral ,ou teria sido Filosofia? Já não me lembro… mas uma coisa retive … é que dava as aulas sempre a olhar para os cantos da sala e só pontualmente é que olhava para nós… talvez por isso nos tivesse tirado as fotos…. Heheheheh. Bjs da “retirada”.
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JJ respondeu:
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Esse "olha miúdo" agrada-me, faz-me sempre sentir mais novo... Mas é uma pequena repreensão ao "retirada", suponho. Bem (re)aparecida, menina Ana!
Já agora, há alguém que tenha tomado os comprimidos e se lembre o que é que o tímido Sr. Padre Fernando Carvalho leccionava?
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Ana Nascimento disse:
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Olha que o "miúdo" não foi repreensão… foi carinho…. Já sabia que tinhas ideias brilhantes mas esta foi uma jogada de mestre,,,,,, Agitaste o pessoal …. E a minha retirada do blog fez com que a Guida Roberto aparecesse… estupendo… já há mais um elemento da minha geração a “bulir” …. valeu a pena a minha ausência !!!!!! Já emendei o teu esquema.
Deolinda, que bom voltar a encontrar-te por aqui…. mas olha que a foto é do meu 6º ano e tu já estavas no 7ª cachopa, daí não encontrares a Isabel Castanheira. Estou a estalar para ver as tuas fotos, por favor tu vai a Almeida e desencanta-as…

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Manuela V P disse:
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Olá João
Finalmente dou um arzinho da minha graça...Então e não é que não estás completamente enganado? - Embora não haja irmãs, estou lá eu!Esta era a nossa turma do 6º ano (que saudades!) que tu (com ou sem ajuda?) conseguiste legendar. Enfim, dei os retoques possíveis na grelha que fizeste e que te mando de volta com as alterações que aquele "amigo alemão" deixou! O Vítor era da turma do Nicolau, do Pimentinha,... (também da minha irmã Lena) mas este é seguramente o Pimentinha! Bjs para ti .
Manela
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Higino Rebelo disse:
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Olá João
Para quem se interessou pelas histórias à volta do Museu Malhoa vou confessar hoje, por ser o momento ideal, quem foi a minha namorada - a tal do namoro proíbido e não impossível - por que volvidos 43 anos reencontramo-nos no passado mês de Julho e, pela minha mão, acaba de chegar ao Blogue - a Guida Santos.
E claro que já falamos de tudo e mais alguma coisa inclusivé do nosso segredo que aliás só o foi enquanto a madrinha, e tia por parte do pai, e este, foram vivos. Assim, com a morte daqueles o tal segredo já não é mais segredo e o Tony já não é mais Tony mas sim Higino Rebelo.
Já agora os nossos principais cumplices foram a Ilda Serrenho e o Froes Fiandeiro também grandes apreciadores do Museu Malhoa.
1 abraço- Higino
P.S: E com o apoio moral do Padre Paulo Trindade Ferreira meu professor de religião e moral, prematuramente transferido para Escola Marquês de Pombal, na Junqueira.
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NOTAS SOLTAS DE MENSAGENS QUE NÃO FORAM COMENTÁRIOS
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"O esquema da aula está 5 estrelas e os comentários chovem…conseguiste mexer com o pessoal do “ meu tempo”… …. BRAVO"
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AINDA HÁ GENTE COM BOA MEMÓRIA:
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"António Araújo Carrilho Tomás - o nome completo do Araújo, o menino de olhos bonitos e barba cerrada." (risos)
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“O padre Fernando Maria foi nosso professor de Filosofia no 6º ano e também de Religião e Moral. De facto quase nunca olhava para nós, fixava o canto superior direito do fundo da sala e era assim que dava a aula toda. Devíamos ser muito feios!!!!! “
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“Nome completo do Pimentinha: Vitor Manuel Pimenta Coutinho “
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“… é o Pimentinha, grande craque do ping pong juntamente com o Nicolau…. “
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MAS JÁ HÁ ALGUNS A QUEM A MEMÓRIA FALHA...
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“O Sério, lembro-me agora, era José.“
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“O Sério era Luís, Luís Sério. “
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“Acho que o Sério era João…ou António…“
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“Lamento, mas conheço tão poucas caras nas fotografias. E nomes? Isso ainda é pior. “
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“Atrás do Nicolau a Guida diz que é o Vítor , desse não me lembro…“
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“Alguns pouco tempo andaram por lá e eram pouco comunicativos. “
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“Do Nicolau, sinceramente, só me lembro desse apelido. Tenho uma ideia muito vaga que seria António mas não me atrevo a confirmar. “
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“… lembro-me da Ana Vieira Lino, pouco mais, mas quem não se lembra da Ana Vieira Lino? “
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“As caras estão cá quase todas dentro mas os nomes, os nomes desapareceram numa qualquer formatação, já há uns anos…“
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E HÁ OS EXIGENTES,CLARO,PARA A PRÓXIMA VAMOS LÁ A CASA MOSTRAR AS FOTOGRAFIAS E IDENTIFICAR AS PESSOAS:
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“Uma sugestão: será possível pôr os nomes como legenda às fotografias? É que não dá jeito nenhum estar a ler a fazer 'scroll' permanentemente para ver as ditas caras."
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“HOUVE UM PEDIDO NÃO INTEGRALMENTE ATENDIDO:
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“...veio-me uma lágrima aos olhos……. não falto ao próximo encontro…… mas não divulgues, isto não tem jeito nenhum…. “
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E OUTRO PEDIDO AINDA COM RESPOSTA INCERTA:
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Ainda não perdi a esperança do João Licínio aparecer… ele tem montes de episódios para contar …assim esteja na disposição de o fazer…
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Manuela Gama Vieira disse:
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Olha, estive este fim de semana em Coimbra. Os meus Pais acharam imensa graça à foto do blog e reconheceram LOGO o meu irmão. Não deixaram de comentar a sua pose algo "desafiadora". O colégio, os nossos professores e colegas foram tema de conversa. Só te digo, têm cá uma memória...Lembram-se de ti, da tua irmã, de teus Pais, eu sei lá, acho que cabeças daquelas já não se "fabricam"!
(A Manuela já me perdoou esta "maldade" de usar como comentário esta mensagem pessoal em que ficámos assim a saber que o "jovem desafiador" é o João Lícinio Gama Vieira. Cumprimentos aos teus pais, transmite-lhes a minha satisfação por os saber de boa saúde. JJ)
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Maria de Fátima (FáFá) Gama Vieira disse:
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Relativamente à identificação da fotografia, a 1ª vez que a vi, na transição do Verão para o Outono, fiquei deveras emocionada ao reconhecer o nosso irmão João, este fim de semana foi realmente engraçado. Haverá alguma da nossa turma? Era giro. Um grande abraço. M.Fátima Gama Vieira - FáFá
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JJ respondeu:
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A foto em que a nossa turma aparece mais completa é :
A fotografia oficial (?)
mas tu não estás lá. Idem para as do baile de finalistas, que estão no arquivo. Dentro da sala de aula só conheço uma da nossa turma e tem pouca gente:
SALA DE AULA DO 3º ANO EM 1966 / 67
Não tens fotografias da época da tua passagem pelo Colégio para partilhar connosco?

Crónica de uma Morte Anunciada

por Isabel Xavier

A D. Dora, sentada num dos lugares da frente da “carrinha do colégio”, (na verdade um autocarro dos Claras fretado para transportar os alunos), debruçou-se para melhor observar um conjunto de estudantes que atravessava a praça da fruta, em direcção aos pavilhões do parque, onde funcionava o liceu. Voltou a sentar-se e disse com azedume: “parecem umas leiteirinhas!”. Referia-se às meninas cujas batas, por serem azuis, lhe pareciam mais adequadas ao exercício daquela profissão. Nós rimo-nos, talvez nervosamente, porque, pelo menos no meu caso, seria uma bata daquelas que viria a usar no ano lectivo seguinte (de “leiteirinha”, portanto), e estava bem consciente disso.


A questão das diferentes batas que as meninas das diferentes escolas da cidade tinham que usar constituía tema de muitas conversas e pretexto para insultos de vária ordem. As do colégio, por serem às riscas, faziam com que nos chamassem “zebras” – tinham a vantagem de podermos variar as cores das riscas –, as da escola técnica, brancas, conduziam directamente ao epíteto de “baleias brancas” e a D. Dora acabava de inventar a expressão “leiteirinhas” para designar as alunas do liceu. Penso que não “pegou”, não houve tempo para isso: no ano lectivo seguinte, 1973-1974, deu-se o 25 de Abril e um dos resultados da revolução foi deixarmos de usar bata.

Naquele ano (1972-1973), para além dos miúdos da primária e do Ciclo, nós éramos os últimos alunos do antigo curso dos liceus a frequentar o colégio. Havia uma única turma em funcionamento, a do quinto ano, após uma gradual implementação dos restantes níveis de escolaridade no liceu. Durante o Verão, tinha havido mesmo alguma preocupação por parte dos nossos pais, por temerem que o colégio optasse pelo funcionamento exclusivo da primária e Ciclo. Em minha casa chegou a colocar-se a hipótese de procurar integrar-me em algum colégio interno.

Assim se justifica o título desta crónica, evidente plágio do escritor Gabriel Garcia Marquez, que espero não me vir a trazer algum dissabor em termos judiciais.

Fui para o colégio logo na escola primária. O director era o Padre Albino (já não conheci o Padre António Emílio). Dele recordo essencialmente o medo que (eu) lhe tinha, os quistos que (ele) possuía na cabeça, a capacidade para influenciar rapazes para uma possível, mas muito improvável, carreira eclesiástica, tornando-os acólitos e levando-os a frequentar retiros em Penafirme. Recordo também os longos e impressionantes rituais que se realizavam, no seu tempo, e sob sua orientação, na Igreja de Nossa Sra. da Conceição, com abundantes encenações litúrgicas com muito incenso à mistura.



No seu tempo, no colégio, um rapaz e uma rapariga não podiam percorrer a ladeira de acesso à escola sozinhos, isto é, formando um par, ou pelo menos eram chamados à atenção por isso e instados a alargarem o tamanho do grupo em que se integravam. No seu tempo, o colégio possuía um sistema de som destinado a emitir música sinfónica durante os intervalos. Nesse tempo, o padre Albino escolheu a minha turma para dar aulas de Religião e Moral e nós passávamos essas aulas a ler os Evangelhos, de pé, cada um na sua vez, sem gaguejarmos e, depois, a comentá-los, ou melhor, a ouvir respeitosamente o seu comentário. Era um místico e acabou por ingressar num mosteiro de frades cartuchos, em Évora.

A nossa surpresa foi enorme, tal como a nossa alegria quando soubemos que ia ser substituído pelo Padre Xico (penso que ele assinava deste modo). A vinda do Padre Xico inaugurou um novo ciclo na vida do colégio, mais livre. A música passou a ser ligeira, os percursos a caminho da escola passaram a poder ser percorridos na companhia que mais nos agradasse, os professores contratados no seu tempo eram bastante diferentes do habitual, do púlpito cheguei a ouvi-lo questionar o celibato a que os sacerdotes estavam obrigados.




Era um padre moderno que modernizou a instituição. Na altura nunca isso me passou pela cabeça, mas hoje, com a distância e a lucidez que acredito que o tempo nos concede, é aqui que eu coloco o início do processo que levou o Externato Ramalho Ortigão à situação que dá título a esta crónica. Quando uma organização se moderniza dá o primeiro passo para o seu fim. Não por culpa do Padre Xico, ele limitou-se a ser uma das personagens necessárias a um fim que se preparava inexoravelmente e do qual a sua nomeação para o cargo de director foi apenas sinal premonitório.

O liceu veio para as Caldas, no colégio ficou apenas uma turma no ano lectivo de 1972-1973 e deixou de haver qualquer turma, à excepção das da primária e Ciclo, no ano de 1973-1974. Não há aqui algo de simbólico?

Quando se deu o 25 de Abril, exactamente nesse ano, já nenhum de nós podia sequer frequentar o colégio, a pouco e pouco, todos fomos saindo, por termos terminado os estudos que lá se faziam ou por transitarmos para o liceu, onde participámos nas RGA’s e nas RGE’s próprias do período revolucionário. Alguém imagina RGA’s e RGE’s no colégio? Tudo estava certo porque tudo aconteceu no tempo próprio.

O colégio passou, entretanto, a Jardim-escola, com consequente desperdício de salas de aula, suponho eu. Actualmente é um pólo da Universidade Católica. A propósito, já viram como está bonito o colégio? Os tempos passam e a vida muda e nunca mais volta a ser como era. Outras coisas nascem e se desenvolvem.

Anos mais tarde, quando terminei o curso (1981) e fui apresentar-me como professora no “liceu” (ainda hoje os alunos lhe chamam assim, tal como chamam “técnica” à Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro), receberam-me os membros do Conselho Directivo. No respectivo gabinete estavam o Dr. Serafim de Físico-Química, o Padre Eduardo de Religião e Moral e Sra. D. Rosa de Educação Física. Adivinhem de onde é que eu já conhecia estes “colegas”…

- Isabel Xavier-
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COMENTÁRIOS
João B Serra disse:
Mesmo que a Isabel não assinasse, julgo que seria capaz de descobrir a autoria deste texto. É claro, preciso, arguto e salpicado de humor (mesmoquando esconde a ironia por detrás da mais objectiva das descrições). Mas como ela já aqui uma vez me chamou à condição de seu antigo professor,sinto-me autorizado a dizer-lhe que não me parece que se possa dizer que a modernização é o caminho para o fim das organizações e duvido que tenha sido o caso do ERO. A massificação do ensino secundário teria que passar em Portugal forçosamente pela acção do Estado. Quando este despertasse para a necessidade de qualificar os portugueses em níveis mais avançados do que a escolaridade primária e de ampliar o acesso ao ensino superior, o ensino particular passaria um momento difícil. Foi assim em todo o país, e não só nas Caldas. O ensino particular nos anos 70 foi deixando o campo do ensino secundário, ocupado cada vez mais pelo Estado, e procurando outros espaços de acção: o pré-primario e o primário, sobretudo. Este movimento começou antes do 25 de Abril. A revolução apenas o acelerou. O conceito dominante então, consagrado nas políticas de educação, era o de um ensino particular supletivo do oficial. Competindo ao Estado assegurar o acesso livre e gratuito à escolaridade obrigatória, ao ensino particular restaria preencheras falhas. Foi daqui que se evoluiu depois para o conceito de liberdade de opção, que é muito difícil de concretizar, pois a empresealização implica um fim lucrativo.
Em 1972, quando, depois de décadas de protesto e espera pelo ensino liceal,foi finalmente autorizada a criação de uma secção liceal nas Caldas, que poderia ter feito o Externato Ramalho Ortigão para sobreviver? Pouca coisa,certamente. Reter os melhores professores? Como, com que garantias? Baixar o valor das propinas? Seria sempre superior ao do liceu. Oferecer um ambiente escolar mais confiável? Mas como, se os liceus é que tinham o exclusivo daavaliação e da certificação?
Em suma: o elan reformador do Padre Xico estava certo e teria conduzido a organização a um patamar atractivo nos anos 70 se ela não tivesse sucumbido pelo movimento exterior. Morreu por algo que veio de fora e não por algo que veio de dentro.

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Manuela Gama Vieira disse:
Não conheci esta fase conturbada do Colégio e o seu epílogo, muito bem descrita quer pelo Senhor P.e Naia, quer pela Isabel Xavier, uma rapariga mais nova que eu.Contudo, não resisto a partilhar convosco o que "guardei" de três personalidades do Colégio, aqui lembradas:
Senhor P.e Chico:
A primeira pessoa que encontrei quando, "esbaforida", no dia 25 de Abril de 1966, pelas 19h30, ia a entrar no Montepio, para visitar minha Mãe e meu irmão Luís Filipe, "acabado de nascer; ainda mal abria os olhos e já eram para ME ver"!!!, como diz o poeta; (o Senhor P.e Chico vinha a sair de uma visita a alguém doente e ali internado).Relembro ainda as suas magníficas aulas de Canto Coral, "passando" discos de vinil, explicando-nos peças clássicas, respectivos andamentos, biografia dos respectivos compositores. A par das sonoridades caseiras, contribuiu para ajudar a "educar" os meus gostos musicais, tal como contribuiu a música clássica (que, desculpem-me, não classifico de fúnebre) que se ouvia nos corredores do colégio do meu tempo. Esta uma particularidade muito positiva que recordo do Colégio.
Senhora D. Dora:
Não vou acrescentar muito...porque recordo pormenores engraçados, coincidentes com colegas que já os referiram:O bâton encarnado nos lábios e nos dentes....o cabelo, de tão ralo, parecia mesmo algodão doce; essa dos fósforos, oh Jales, que maldade....Lembro-me das enormes e bem cuidadas unhas encarnadas, e as sobrancelhas, quase inexistentes, desenhadas a lápis castanho.
Director do Colégio- Senhor P.e Albino:
Quanto o detestava! Não pelas protuberâncias que tinha na cabeça: a saúde ou a falta dela, de quem quer que seja, merecem-me o maior respeito.Contudo...estou ESQUECIDA da pessoa que era o Sr. Director, que se impunha não pelo respeito que inspirava, mas sim pelo "ambiente quase de terror" que queria...que se respirasse no colégio.
Já aqui contei que no tal dia 25 de Abril de 1966, eu estava a cumprir 1 dia de suspensão por me ter sentado na relva.
Um místico?....Acho que era tudo menos um místico.
De resto, penso que nem se "aguentou" muitos anos na Cartuxa de Évora, para onde se auto-exilou...e fez ele muito bem!!!!
UM ABRAÇO A TODOS! MANUELA GAMA VIEIRA
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Ana Carvalho disse:
Isabel ainda bem que há pessoas que escrevem bem e passam para o papel, na perfeição, aquilo que sentem e conseguem fazer-nos voltar ao passado. A descrição do Padre Albino e Padre Chico está fantástica e parece que estou a ver a D. Dora no 1º baco da carrinha a fazer esse comentário e outros claro, só ela mesmo para chamar leiteirinhas às miudas do Liceu. E já agora a propósito da D. Dora o João fala no cabelo mas e o baton nos dentes? PP
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Belão disse:
Tal como a Isabel, não sou do tempo do Pe António Emílio. Somos muito novinhas! Também, como todas as rapariguinhas da época, ia de carrinha para o Colégio e recordo-me perfeitamente da D.Dora sentada na frente, contabilzando quem faltava. Ousei uma vez fazê-lo e, ainda não tinham terminado as aulas da tarde, já a minha mãe sabia que eu tinha ido às aulas, mas me tinha baldado à carrinha! Deu castigo, é certo. Mas era tão mais divertido subir a ladeira em conversas típicas da "idade do armário"!Obrigada Isabel por nos avivares a memória!Bjo. Belão
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Jorge disse:
entre o relato pessoal e a crónica histórica,este é um post de alguém que sabe o que quer dizer.suponho que seja a mais nova dos Xavier,certo?
a recordação do jales é uma maldade,mas suficientemente divertida para ninguém levar a mal.abraço.jorge
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Isabel Caixinha disse:
Alguns comentários são mais dificeis de escrever que outros...Este texto da Isabel lembrou-me quão confusos foram estes dois anos lectivos!Ano lectivo de 72/73, o ultimo ano do Colégio, por todas as incertezas que o seu encerramento veio trazer, como tambem a tristeza do fim!O Ano Lectivo de 73/74 no liceu, por ser para mim uma escola nova e por ter acontecido o 25 de Abril durante o ano .A tristeza que eu senti pelo fim do ERO foi em breve substituída por alegria ao descobrir que o liceu me proporcionava as vivências próprias da idade, e a liberdade, que nunca até ali tinha conhecido no colégio...Pela primeira vez desde que tinha entrado para a escola, pude descer e subir a ladeira para ir para o Liceu!Um ano muito importante o do 25 de Abril!!Obrigada Isabel por trazeres de volta estas preciosas memórias, através do teu texto!Beijinhos Isabel Caixinha
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João Jales disse:
Tenho que começar pela D. Dora e o seu fantástico penteado (era o que se chamava uma "permanente", julgo). Grande e almofadado como uma bola de algodão-doce, cabiam lá, sem a dona dar por isso, dezenas de fósforos, papelinhos, bilhetes usados e enrolados, enfim, tudo quanto a "carrinha" proporcionava aos entediados alunos que nela viajavam. A D. Dora ia sempre estrategicamente sentada no banco da frente, logo atrás do motorista. Os lugares imediatamente atrás eram rijamente disputados.
O texto da Isabel, embora omita este curioso passatempo, dá-nos uma concisa mas certeira caracterização do que foram os consulados dos padres directores. E descreve a "morte anunciada" do navio da perspectiva dos passageiros e não do comandante.
O esvaziamento do Colégio era inevitável perante a abertura do Liceu e todos o sabiam. Concordo com a Isabel, passo por ali com frequência e o edifício, entretanto ampliado, está muito bem conservado.
Penso que as contribuições da Isabel têm sido, na forma e no conteúdo, uma lufada de límpida prosa no Blog, não acham? JJ
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Luísa disse:
Oh JJ tu tens que ser interdito ou interditado -já nem sei como se escreve -se continuas a lembrar-te e a divulgar estas histórias! Nunca mais me tinha lembrado da “permanente” da D Dora!!!O texto da Isabel lê-se,como dizes,com prazer e foi para mim uma revelação- desconhecia a existência desta “turma fantasma” no E.R.O.- enquanto todos os outros estavam já no Liceu. Mas não percebi bem porque é que isso aconteceu.As palavras sobre o Padre Xico são justas - e sobre o Padre Albino também,já agora!Bjs. L
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Isabel Esse disse:
Já que agradeci ao Padre Naia o seu texto,tenho que fazer o mesmo à Isabel.
Eras uma garotita quando eu brincava com a tua irmã Lena,olha que bela escritora te tornaste,quem diria?Também não conheci o Padre António Emílio,só o Padre Xico(também gostava dele) e o Albino(Brrrrrrr!!!!pôe medo nisso).

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João Ramos Franco disse:
Tu escreveste: "O estilo existencialista do texto de João Ramos Franco sobre a praça, que também é característico do tempo em que foi escrito".
A propósito do estilo com que escrevemos, e estando tu com "receio" da citação do Gabriel Garcia Marquez, eu vou acrescentar uma outra citação também sobre a morte anunciada: "Não são dores verdadeiras, é pior, são as dores que vou ter amanhã de manhã. E depois?". Jean Paul Sartre (O Muro)
Talvez seja bom sinal ter algum estilo, mostra que sempre ficou em nós algo do que lemos.
João Ramos Franco
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Manuela G V disse:
Quanto à criação tardia, digo eu, do ensino liceal nas Caldas, não seriam alheias as "cumplicidades" entre Estado e Igreja! "Foi você que pediu justiça social"????

Resposta e comentário final da Isabel Xavier:

Eu não digo que a modernização foi um "caminho", mas sim um sinal, falo até em "sinal premonitório". Digo também que a nomeação do padre Xico (pelos seus superiores hierárquicos) é que indicia o fim que se aproximava inexoravelmente, sem que o padre Xico tivesse "culpa", portanto, sem ser devido à sua acção.
Mas concordo com o comentário do João Serra e agradeço as explicações que ele dá sobre o contexto histórico de tudo isto. Fá-lo na qualidade de meu antigo professor, aqui invocada por ele por eu já a ter invocado noutra ocasião. Nessa altura, eu disse também que ele era um grande amigo, e é. Por isso fez questão de realçar as características específicas da minha escrita, na sua opinião. Feliz de quem pode continuar a aprender pela vida fora com professores assim!
Aproveito para agradecer os outros comentários também. A Isabel Caixinha deve lembrar-se bem deste processo porque sempre fomos colegas de turma. Ela passou a percorrer a ladeira do colégio,mas no sentido inverso, quando nós deixámos de o fazer: é curioso!
O comentário do Jales é impagável! Coitada da D. Dora!... Já agora, o da Belão também.
Tudo isto é uma descoberta! "Vasculhando" o passado, reatando o que julgávamos perdido, descobrindo-nos a nós mesmos nas memórias uns dos outros!
É urgente que nos encontremos para sabermos como somos agora. Quase como aqueles casais de possíveis namorados que levam um sinal exterior para se reconhecerem no primeiro encontro, depois da comunicação escrita, quase como nos filmes.
-Isabel Xavier-

AO FECHAR DO PANO…

por Padre Naia


Estive ao serviço do Externato Ramalho Ortigão, nos últimos anos da sua longa existência, sendo eu, por isso, o último dos seus Directores. Infelizmente, não na época de esplendor e de papel relevante na vida da cidade de Caldas da Rainha, mas do seu definhamento progressivo. Em cada um dos quatro últimos anos, uma parcela foi amputada. É natural, pois, que a esmagadora maioria dos alunos, hoje dispersa pelos mais variados campos da vida, desconheçam o final da sua história.

Não terei sido certamente suficientemente cuidadoso em recolher por escrito dados que seriam úteis para este depoimento. Algumas fotografias e uns escassos registos foi o que restou. Mas confio em que a memória não me atraiçoe por completo!

Em Outubro de 1971, regressei às Caldas depois de uma estada de dois anos em Tomar. Por iniciativa do Director, Padre Francisco Duarte dos Santos, vim com a incumbência de apoiar as disciplinas de Português e Latim, assim como a catequese dos mais novos, de parceria com a Helena Vieira Pereira. No fim deste ano lectivo, devido à criação da Secção das Caldas do Liceu de Leiria, terminaria o Curso Complementar dos Liceus no Externato Ramalho Ortigão. Lembro-me que, nesse ano, nas férias da Páscoa, com o Director, as professoras Júlia e Cármen Nogueira e outros, realizámos uma agradável excursão ao Sul de Espanha de que guardo diversos registos fotográficos.

O meu segundo ano ao serviço do Colégio coincidiu com o último ano de Director do Padre Xico. Nesse ano, por solicitações várias, funcionou, à noite, um regime de aulas intensivas para adultos, o que se revelou de relevante utilidade social. Mas mais uma parcela não resistiu: o Curso Geral dos Liceus (3.º, 4.º e 5.º anos) passou a ser leccionado na Secção Liceal. Restava o Ciclo Preparatório (1.º e 2.º anos) e o Ensino Primário. No final deste ano, o Senhor Cardeal Patriarca deslocou o Padre Xico para a Paróquia da Ajuda, em Lisboa.

Em Outubro de 1973, depois de nomeado pelo Patriarcado, requeri ao Secretariado do Ensino Particular do Ministério da Educação Nacional o Diploma de Director. Soube, logo a seguir, que a PIDE teve o cuidado (!) de se informar junto de algumas entidades e pessoas da cidade sobre o novo Director. O resultado foi nunca me ter sido atribuído qualquer diploma. O Patriarcado deve ter mantido a sua decisão e julgo ter sido, até ao fim, um Director ilegal…

No início do meu mandato, convidei os últimos professores em funções no ano anterior para um almoço-convívio no edifício do Colégio, em que todos lamentaram o que estava a acontecer. Lembro-me do testemunho emotivo do professor Figueiredo Lopes em clima de confidência. Deu-se, depois, o 25 de Abril. Ainda foi leccionada a primeira aula da tarde desse dia, mas não mais, porque os familiares dos alunos vieram gradualmente buscar os seus filhos, assustados como estavam com a situação. Durante esse ano, na continuidade do que já se fazia anteriormente, promovemos, à noite, aulas de explicações intensivas de preparação dos exames do chamado curso propedêutico de entrada na Universidade. Esta iniciativa foi realmente considerada pela generalidade das pessoas como um bom serviço prestado a toda a região, que no ano seguinte – certamente devido à sua projecção social - havia de ser parcialmente boicotado por um grupo de professores do liceu, sob a liderança do dr. Perpétua, que ousou instalar, num estabelecimento de ensino público - que, por definição, é gratuito! - aulas à noite a expensas dos alunos… Tudo se permitia naquele tempo e com intenções óbvias…

O último dia de aulas do Ciclo Preparatório foi vivido normalmente, mas, ao terminar, lembrei-me de convidar alguns alunos para um breve passeio até junto de um moinho, no Chão da Parada, de que é testemunho uma fotografia que tive o cuidado de tirar sem que revelasse a ninguém as minhas intenções.



Só pouco antes do ano escolar seguinte é que convoquei os encarregados de educação para lhes dar contar da decisão de fechar o Ciclo. Todos deploraram a situação dada a conhecer às pessoas presentes, mas dessa reunião surgiram diversas sugestões sobre algumas actividades a desenvolver ao nível de tempos livres após as aulas na escola oficial.

Entretanto, na paróquia, procurava-se há algum tempo reactivar uma instituição denominada “Patronato de S. José” que funcionava num espaço hoje ocupado pelo Centro Social Paroquial, antiga residência do dr. Pires de Lima, há muito disponível apenas quanto ao seu usufruto. O pároco, o Padre José Guerra, promoveu a mudança do estatuto legal desta instituição para “Centro Social Paroquial” e pensou-se, então, na sua instalação no edifício do Colégio.

Em Outubro de 1974, restava apenas o ensino primário. Dei formalmente ao Patriarcado conta do que se adivinhava: o fecho definitivo do Externato no ano seguinte. Perante a situação, o Cardeal Ribeiro consultou a Congregação dos Salesianos para a continuidade deste estabelecimento de ensino. Por esse motivo, recebi uma delegação desta instituição que procurou informar-se sobre a situação, documentou-se com fotografias, abriu um “dossier”, mas nada mais eu soube sobre os seus contactos com o Patriarcado. Neste último ano, além ainda da manutenção do Ensino Primário, começou a funcionar o Jardim de Infância do Centro Social Paroquial. Foi extremamente oportuna esta instalação, para preservar o edifício, apesar de, nos primeiros anos, o Director do Centro, o Padre José Guerra, ser obrigado a admitir, na Direcção, elementos impostos pelas forças políticas vigentes na cidade. Com muito empenho, conseguiu manter a instituição sob a alçada da Igreja.

Entretanto, emergia a convulsão social no país. Grassava a era das “ocupações”. Foi neste contexto que tive de enfrentar duas “delegações” no sentido de “ocuparem” o Colégio. A primeira soube que a tinha de receber por parte do pároco da cidade a quem o sr. Artur Capristano comunicara a pretensão do Ministério. Foi então que tive de acolher na sala dos docentes do Colégio um conjunto de professoras do Ciclo Preparatório (actuais 5.º e 6.º anos), de que me lembro fazerem parte, além de um representante do Ministério, a professora Ana Luísa, esposa do Mestre Mateus da Escola Industrial. Informei sobre o reduzido número de salas disponíveis perante a instalação recente do Jardim de Infância do Centro Social Paroquial. Pareceu-me terem saído convencidos, o que mais tarde não me foi confirmado, nem ocasionalmente pela professora Margarida Ribeiro, nem, depois, pelo bispo auxiliar de Lisboa, D. António Marcelino, a quem foi feito um reparo por parte do Ministério. A outra delegação foi recebida, não por mim, mas pelo Presidente Velhinho, no edifício da antiga Câmara Municipal. Além do Presidente (da Comissão Administrativa da Câmara?) e de mim próprio, estiveram presentes Marcelo Morgado, José Luís Lalanda Ribeiro e os professores Mário Tavares e Norte. Estes dois últimos propunham a entrega do Colégio, ao que me opus dizendo que, se a revolução de Abril era pela liberdade, tinha também de se preservar o ensino livre fora do âmbito do Estado. Mário Tavares respondeu-me dizendo não compreender onde eu queria chegar com esse tal “ensino livre”. No entanto, esta opinião era corroborada pelo professor Norte. Tomou, depois, a palavra Marcelo Morgado que afirmou desejar que os seus filhos fossem educados num ensino livre como, por exemplo, no da Igreja, de preferência ao do Estado. E assumiu essa posição afincadamente, o que não deixei de sublinhar mais tarde quando presidi às suas exéquias. A certa altura, o Presidente abandonou a reunião, julgo que propositadamente por não concordar com a “ocupação” do edifício do Colégio. Sinceramente não me lembro como acabou a reunião, mas nada de relevante ficou decidido.

Os anos após o encerramento do ensino foram de aproveitamento do espaço pelo Centro Social, embora muita coisa estivesse ainda ao meu cuidado, nomeadamente algum recheio que passava a ser requerido por estabelecimentos de ensino do Patriarcado e outros como o Colégio do Planalto, de Lisboa, pertencente à Prelatura do Opus Dei, que passou a utilizar parte dos laboratórios. Lembro-me ter sido este Externato que levou o célebre esqueleto… Mas garantiram que ofereceriam um outro completamente novo, se o Colégio Ramalho Ortigão reabrisse.

Começou, depois, a surgir, a ideia da instalação da Universidade Católica. E diga-se com toda a justiça, graças à insistência, e talvez à teimosia, do pároco, Cónego José Guerra, apoiado pelo Presidente da Câmara. Cheguei a pertencer a uma incipiente Comissão Instaladora, de que faziam parte o Pároco, o Presidente da Câmara e o dr. Rogério Caiado e não me lembro de quem mais. Nesta qualidade, chegámos a ser recebidos, em Lisboa, por D. José Policarpo, na altura bispo auxiliar de Lisboa e Reitor da Universidade Católica. Da minha parte, além de outros trabalhos pastorais, passei a dar aulas na Secção Liceal, para logo me afastar e enveredar pela carreira universitária, em Lisboa.


PADRE MANUEL AUGUSTO NAIA DA SILVA

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COMENTÁRIOS

João Jales disse:
É um privilégio ter aqui este último capítulo da história do Colégio narrado pelo seu Director na altura. Como o próprio reconhece, este é um período mal conhecido e sobre o qual nenhum elemento tinha ainda surgido aqui no Blog. Completa, e corrige, a breve história do ERO que aqui publicámos em Janeiro
Coincide com um período conturbado da nossa História recente, com alguns actores muito conhecidos, a maioria felizmente vivos. Mas é de notar que o fim do Colégio como estabelecimento de Ensino Liceal é anterior ao 25 de Abril, motivado pela abertura do Liceu nas Caldas da Rainha e não pela Revolução.
Gostaria de ver aqui comentários de alunos desta época, algum deles visita o Blog? E tem memórias desta época? Fico a aguardar.
Teremos aqui a seguir o outro depoimento de uma aluna desta época, mas que não constitui um comentário, já que os dois textos foram escritos em simultâneo e sem mútuo conhecimento.

Manuela Gama Vieira disse:
Li com muito interesse este artigo.
Apesar de ter ingressado na Faculdade em 1969/1970,o meu irmão mais novo frequentou uma parte da "Instrução Primária" no ERO; até 1975,se não estou em erro,ano em que fomos residir para Coimbra.

Isabel Esse disse:
Bom,este depoimento é sem dúvida uma honra para o nosso blogue,já que quem melhor que o Director para contar o que se passou?
Eu até julgava que o Colégio tinha acabado em 1972,como o Jales dizia na sua crónica.
As peripécias de 1975 são típicas da época!
Obrigada,PadreNaia.

Ana Carvalho disse:
Olá
Eu, nesta altura já não estava no ERO. Já li o que o Padre Naia escreveu e com muito prazer, mas eu já não passei por estes anos de transição do Colégio para o Liceu .
Eu saí do Colégio para Leiria em 69 ou 70, já não me lembro bem, e nesta altura já estava em Lisboa. Bjs PP

Luís disse:
Toda esta história é um bocado triste,realmente.Mas ainda bem que é contada na primeira pessoa,assim sabemos exactamente como aconteceu.Durou trinta anos o colégio como tal,antes de passar a infantário.Para o próximo Almoço devias juntar tudo o que foi escrito e editar(em papel) a HISTÓRIA DO ERO!Guarda-me um exemplar.Abraço.Luis M

João Ramos Franco disse:
Com o devido respeito pelo sentir do Padre Naia e de todos os colegas que viveram este momento da história do Colégio narrado pelo seu Director na altura, está presente em mim que foi aí no ERO que estudei Camões e dele retiro estas palavras, que penso serem válidas neste contexto:
“Mudam-se os tempos
Mudam-se as vontades
Todo o mundo é composto de mudanças…”