ALMOÇO / CONVÍVIO

ALMOÇO / CONVÍVIO

Os futuros almoços/encontros realizar-se-ão no primeiro Sábado do mês de Outubro . Esta decisão permitirá a todos conhecerem a data com o máximo de antecedência . .
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VIAGEM DE FINALISTAS DO ERO A ESPANHA EM 1965

VIAGEM DE FINALISTAS EM 1965, por Júlia Ribeiro
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O texto é da autoria da excursionista Júlia Ribeiro, com a colaboração da sua "empresa", aqui retratada em plena laboração...

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Como recordar é viver..... aqui vai

A nossa excursão terá sido uma das primeiras viagens ao “estrangeiro”....
Para mim foi .....e para muitos dos meus caros colegas também, pois naquela altura era mais difícil sair do País porque....... era necessário ter passaporte....!!!!!..

Assim, lá fomos com passaporte colectivo (se alguém fugisse ficava tudo preso na fronteira....) e durante uma semana lá andámos por terras espanholas (nunca havíamos visto tantos “hermanos” e “hermanitas” juntos..!!!!.).
Eu não tenho o Roteiro da viagem (será que alguém tem ?) mas recordo Madrid, Toledo, Segóvia, Escorial, Vale dos Caídos como locais principais do nosso itinerário.
Lembro com alegria alguns episódios engraçados que aproveito para partilhar com os colegas (nessa altura as Ramalhonas e os Ortigões ainda não tinham sido criados....)

Iniciou-se a excursão no Largo da Igreja. Os lugares foram distribuídos pelo Director Padre Albino, com indicação expressa de não haver trocas..... Na frente ficaram o Director e Professores (Dª .Anita, Dr. Azevedo, Padre Xico, Drª Regina e Drª Cândida) logo seguidos pelas raparigas, sendo os lugares do fundo reservados aos rapazes (nada de misturas...).

Houve colegas do sexo masculino que, com muita mágoa deles e nossa, não puderam ir por terem sido “apanhados” pela papeira e havia que tomar cuidados... com a papeira não se brinca ....
Como ilustram algumas fotos, podemos ver que há um “menino” de cachecol bem enrolado ao pescoço.... situação que nos leva a supor, passados estes anos todos, ter sido uma medida de prevenção para qualquer recaída.......!!!!!!!!!!

Segundo indicações da Direcção, os horários teriam que ser cumpridos à risca, as meninas só poderiam sair à noite quando acompanhadas pelos professores. Os rapazes já o poderiam fazer, provavelmente sem tantas restrições....
Não me recordo de alguma vez ter saído à noite, será que alguém se lembra?, dêem uma ajuda...
Aliás, saí sim... mas apenas no regresso.... foi no último dia e graças ao meu paizinho, que “morto de saudades da sua filhinha”, estava em Badajoz à nossa espera e me levou, depois do jantar, a dar uma volta pela cidade com algumas colegas.
Diga-se a propósito, que a comida em Espanha era horrível e esta foi uma das poucas refeições em que se comeu bem, porque.... era cozinha à boa maneira portuguesa......

Em Segóvia também almoçamos bem, tão bem que todos os colegas com quem falei se lembram da "Mesón de Cándido" (obrigada sr. Cândido...).
Neste restaurante a determinada altura foram avistadas umas canecas estrategicamente colocadas num tabuleiro, em local de passagem. Alguns mais atrevidos não se contiveram e desviaram uma para o bolso....mas ao chegarem à camioneta, qual não foi a sua decepção quando descobriram que, por baixo dos preciosos objectos, estava escrito “Roubado na Mesón de Cándido"......

Na cidade de Madrid, ficaram instaladas as meninas num hotel e os rapazes noutro, sitos na Calle José António, os dois frente a frente para melhor controlo não fosse alguém escapulir-se para a noite espanhola. ...
Dessa estadia, consta que os rapazes no regresso de uma saída à noite, ao chegarem ao hotel, depararam-se com a porta já fechada, provavelmente os horários tinham sido esquecidos ... Pernoitariam na rua se alguém não tivesse tido a brilhante ideia de começarem todos a bater palmas. Foi sorte serem ouvidos pelo porteiro que lhes abriu a porta, safando-os assim de um provável ralhete do Padre Albino.
Conclusão, a sorte estava com eles, sempre foi foi melhor dormir em cama dura do que dormir ao relento.

Esta nossa deslocação a terras de Espanha teve um cariz essencialmente cultural e histórico pois não houve igreja, sé ou catedral que não fosse visitada ... mas não ficou por aqui... também os museus do Oriente e do Prado, em Madrid, constaram no roteiro.
Estas visitas muitas vezes prolongavam-se no tempo sem que houvesse respeito pelo horário dos nosssos estômagos......o que nos valia eram uns chocolatitos e uns caramelos que iam mitigando a nossa fome ......

As fotografias disponíveis não são da minha autoria pois na época poucos seriam os que teriam máquina fotográfica. Muitos dos nossos Pais também não, e se a tivessem não nos entregariam um objecto tão valioso. O fotógrafo de serviço foi o Padre Xico, não me lembro se mais alguém terá contribuido para esta reportagem, mas se algum dos colegas as encontrar no baú, partilhem-nas ......
Filmes ??? oh oh ..... será que alguém já dispunha de tal equipamento ????? (só se fosse o João Jales que pela certa estaria já a dar os primeiros passos nesta área .....!!!!!!!!!!)

E por falar em filmes, chegámos ao fim deste... que se calhar nem existiu .... ou então existirá apenas nas nossas cabeças
Vendo as fotografias será mais fácil cada um de nós idealizar o seu próprio.
Pelo menos, estou certa de que nesse filme, as imagens mais marcantes serão as da alegria, amizade, companheirismo e saudades duns ”pedacitos” das nossas vidas.

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comentários :
2008-03-03
Isabel V P disse:
Obrigada, Júlia & Cia., pelo vosso relato; fez-me voltar atrás e acabou por me recordar episódios esquecidos. Por exemplo, em relação à comida, o nosso primeiro jantar, em Salamanca: como prato principal, feijão verde cozido acompanhado de cenouras cozidas (ou vice-versa) e, para sobremesa, os imprescindíveis e omnipresentes "melocotones".
No almoço de Segóvia, estando todos sentados à mesa, um criado tentava passar por entre as cadeiras dos comensais e, aproximando-se do Pe. Albino, disse qualquer coisa como: "Por favor, Señor puede apretar su silla?". Resposta: uma gargalhada geral. É que todos associaram aquela "silla" à cilha que passa por baixo da barriga do animal de carga e serve para segurar a sela ou a albarda; nem nos passou pela cabeça que ele se referia à cadeira do Pe. Albino, que o impedia de passar. Até o próprio Pe. Albino achou graça!
Agora só falta mesmo é identificar as pessoas. É que há caras em quem já não consigo pôr nome.

Vale dos Caídos

Vale dos Caídos

Pico da Serra de Guadarrema

Talavera de La Reina
Escorial

Toledo

Madrid

Madrid-Jardim botânico

Madrid

Aranjuez
Ávila


Segóvia

Vale dos Caídos

ESTE É O NOVO ÁLBUM NO ARQUIVO DO ERO. É SÓ CLICAR PARA VER TODAS AS FOTOS DA EXCURSÃO.

EXCURSÃO DE FINALISTAS 1965

Fotos 2

Além da Júlia, forneceram fotografias a Isabel V P , o Dario e o João Rodrigues Lobo. Todas as fotos estão já no Álbum EXCURSÃO DE FINALISTAS 1965, separado de todas as outras fotos (podem vê-lo clicando na fotografia colorida acima).
O objectivo de as mostrar temporariamente no Blog é obter as identificações e legendagens com que estarão no referido Álbum . Espero pois os vossos emails com todas as informações possíveis, indicando claramente a que foto pertencem (a 1 é a Primeira, 2 a segunda, etc.)




























PROFISSÃO DE FÉ



Este é um grupo para recordar, estão aqui muitos dos elementos da grande colheita de 1954, ano em que nasceram grandes "artistas" do ERO, como todos sabem (eu sei que há alguns retardatários de 53, mas são poucos). Estão aqui na ritual Profissão de Fé, em Novembro de 1965. Como tem sido habitual nas fotografias vou deixar a legendagem para os comentadores.
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Adianto desde já que há um elemento que nem eu (que estava lá) consigo reconhecer: a jovem imediatamente à frente do Padre Albino (e não sou o único). É estranho como num grupo tão pequeno é possível ninguém se lembrar, ou até haver identificações erradas. Se os testemunhos de participantes e intérpretes das situações têm erros e omissões destas passados poucos anos (só 42!), como será com testemunhos mais antigos ou quando não há testemunhos directos ? Dá que pensar...

A foto tem uma dedicatória, que todos podem ler, do Padre Xico para o Miguel B M, que a guardou cuidadosamente todos estes anos.

Os jovens alternam entre o laço e a gravata, elas parecem ter ido todas ao mesmo pronto a vestir.

Aguardo as identificações e aproveito para perguntar: alguém sabe da Isabel Videira que está aqui ao meio na primeira fila? É rapariga que não vejo para aí há 40 anos, gostaria de a convidar para o próximo encontro.





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Comentários

2008-02-24
Zé Luís Azevedo disse:
A propósito da foto, eu também lá estava! O jovem do canto superior esquerdo é sem dúvida o EDUARDO, irmão da MERCÊS. A menina penso que seja a LUISA PINHEIRO. Reconheço todos os outros figurantes mas os 300 caracteres do comentário não permitem nomeá-los aqui. Abraço para ti/todos Zé Luis

2008-02-25
Luísa Pinheiro disse:
Olá meninos!
Na verdade eu tambem fiz a Profissãode Fé, sou de 1954, mas não me lembro em que ano foi. E a da foto não sou eu. Eu sempre tive o cabelo comprido, lembram-se?
Beijocas para todos
Luísa

2008-02-25
Miguel B M disse:
Legendagem: Cima para baixo, esquerda para a direita 1-Eduardo,D.Esperança, D. Dora 2-JJ, Granja, F Castro, Nunes, Manuel Teixeira 3-Antero, Tó Morgado, MBM, JLAzevedo, P Chico 4-Fátima Angélico ,P Albino 5- São Moreira, Lena Norte,? 6-Cristina Rolim ,Isabel Videira, Lena Xavier / Se conseguires saber o nome da menina que falta diz-me pois estou cheio de curosidade em saber quem é. Um abraço. M

2008-02-26
Ana Nascimento disse;
Será que a menina que falta é a Lóló Costa ?

2008-02-26
JJ disse:
Parece, mas a Lhó Lhó está noutra Profissão de Fé posterior. Só se a fez duas vezes o que, mesmo sendo a família muito religiosa, não me parece provável. Talvez a irmã, a Manuela...

2008-02-26
Miguel Bento Monteiro disse:
A hipótese Costa é pertinente,pois a Manuela deve ser da nossa idade e como era de uma família muito crente e praticante as coisas batem certo.

A PERSPECTIVA CALDENSE DA "INVASÃO DOS REFUGIADOS"

“Comparada com as outras cidades da Estremadura as Caldas tinham uma vida trepidante”, foi com esta frase que o Sr. Fernando Vale me quis mostrar como era diferente viver aqui. Depois de consultar o que os historiadores disseram a propósito da passagem/estadia dos refugiados judeus nas Caldas da Rainha durante a 2ª Guerra Mundial achei que era tempo de dar voz a algumas testemunhas desse tempo, e também a alguns colegas mais novos que me transmitiram as suas opiniões, resultantes do testemunho de familiares e de alguma reflexão pessoal sobre as especificidades da vida nas Caldas nas décadas de 50 e 60.
É consensual que a nossa cidade teve entre os anos de 1940 e 1970 uma forma de viver e conviver socialmente muito diferente das suas vizinhas Leiria, Alcobaça, Santarém e Torres Vedras, por exemplo. Não só a presença das mulheres nas ruas, cafés, esplanadas, parque, enfim em todos os locais públicos, era muito mais evidente do que nessas localidades, como a vida social era mais aberta aos outros e acontecia no exterior. Lembro-me da minha Mãe, que era do Porto, estranhar o pouco que se recebia em casa nas Caldas, ao contrário do que estava habituada no Norte. O facto é que sempre me habituei a levar muitos amigos e colegas para almoçar e jantar em minha casa, o mesmo fazendo os meus Pais, mas sempre com pouca reciprocidade. Todo o convívio se passava nos restaurantes, no Clube de Recreio (vulgarmente Casino), hotéis com restauração, etc.. Já na altura nos era explicado, por alguns amigos da família, que eram hábitos de recepção introduzidos por veraneantes e refugiados que não tinham condições para “receber em casa”, como a minha Mãe estava habituada. Significativo ou não, era um facto.
Muitos testemunhos relatam estas especificidades.
“…só mais tarde me apercebi (16/17/18...) que havia alguma diferença entre as vivências Caldenses e das outras terras num raio de alguns km, Leiria incluída.”(AJFL)
“Tão diferente, que bastava sairmos do eixo Cascais/Lisboa e entrarmos no país profundo (que começava onde Lisboa acabava), para percebermos que as Caldas pertencia a um Portugal alternativo: conservador q.b., mas em que as mulheres fumavam em público e iam sozinhas aos cafés, em que o modo de vestir, se diferente, era criticado mas tolerado com benevolência, em que o CCC teve profunda influência, que não ficou restrita a meia dúzia. Mais importante, em que o CCC e o Casino não eram incompatíveis nem se hostilizavam, embora fizessem de conta. Afinal, muitas das pessoas eram as mesmas...” (FJS)
“…a maneira como se convivia, o Casino, os grupos da Zaira, era diferente da mentalidade que havia na altura no nosso País. Caldas era uma cidade muito "aberta " para a época, e eu sei do que estou a falar, vim de Moura, em pleno Alentejo, quando cheguei às Caldas nem queria acreditar!”(PP).
“As minhas recordações dos anos 50 (segunda metade) e 60, em que vivi nas Caldas, tinham algumas componentes intrigantes pois não se enquadravam nos padrões desse tempo, da cidade e do país. A explicação surgiu mais tarde e atribuo-a à influência da passagem dos refugiados pelas Caldas aliada (em alguns casos) às tradições termais.” (JMAS)
Mas que as Caldas eram diferentes nessa época não divide opiniões pelo que, embora agradecendo todas as contribuições, me limito a estas. A questão é porquê, e aqui não há unanimidade. A estadia dos refugiados em 40/45 tem um impacto decisivo ou é apenas mais um factor a adicionar a outros? Esse foi um momento de corte, alteração ou houve uma evolução gradual? Os testemunhos orais que ouvi (identificados no final) foram absolutamente unânimes em considerar que até ao Verão de 1940 as Caldas, embora “mais animadas no Verão, não eram muito diferentes de Leiria ou Santarém”, “quem saía eram os homens, as mulheres ficavam em casa” ou “elas lá iam de vez em quando ao Concurso Hípico ou ao Parque e raramente a bailes, festas, jantares, onde os maridos se divertiam.” Embora a fotografia de um encontro em S. Martinho aqui publicada há dias pareça retratar algo semelhante em 1962, a verdade é que os testemunhos apontam no sentido de uma alteração a partir de 40/45. Uma das explicações para a rapidez com que os novos hábitos foram assimilados foi o facto de os refugiados serem muitos e manterem uma relação de proximidade com todos os habitantes, natural em quem estava emocionalmente fragilizado.
“… senhoras nos cafés, um cigarro a medo, maneira de estar mais aberta, um convívio diferente, etc. O facto é que as Caldas ficou diferente da restante província circundante.” (AJFL)
“Pela 1ª vez viu-se, na província, as mulheres a fumar nos café, que frequentavam, a usar calças e a jogar ténis. Fatos de banho sem serem saias ou vestidos que as fotos do séc. XIX mostravam, enfim um sem número de pormenores e de regras às quais nos fomos habituando e que eram a vanguarda da moda nesse tempo no País e no mundo.”
(JCN).
Os fatos de banho que se usavam na praia eram efectivamente como o Zé Carlos descreve, mesmo os dos homens tinham peitilho! Foram os refugiados que alteraram isto, junto fotografia (colecção FV) que mostra os fatos de banho “escandalosos” usados por três refugiadas na Foz do Arelho.
“Em termos ideológicos, os refugiados foram actores perfeitamente subversivos, que induziram sementes de democracia pelo simples facto de esse ser para eles um modo natural de viver em sociedade. (…) Por outro lado, e talvez tenha sido esse o maior legado que nos deixaram, sabíamos que o mundo não acabava aqui, que existia mais vida para além do nosso Portugal dos pequeninos.” (FJS)
“Até à chegada dos refugiados o ténis era um desporto de elites, foi com eles que muitos caldenses como eu começaram a jogar. Até aí toda a gente associava o ténis ao Rei D. Carlos…”(FV) “Sei pouco da história desportiva das Caldas (até neste tema o Bonifácio deve ser imbatível), mas nos anos 60 o ténis não estava muito difundido em Portugal e, em termos de «província» (isto é, fora de Lisboa, Estoril/Cascais e Porto/Foz), as Caldas constituíam um pólo relevante (no verão) com bons courts, bons praticantes e torneios em que participavam os melhores jogadores nacionais.” (JMAS)
Só um dos testemunhos não tem uma visão de uma alteração tão brusca e recorda outras influências, mas mesmo assim realça o período referido:
“Quero com isto dizer que me lembro de muitos comentários sobre a grande tragédia para as Caldas que era a guerra civil em Espanha. Na altura não entendi, claro, mas compreendi depois que o turismo termal e de praia aqui do burgo vivia nessa altura em boa parte dos espanhóis. Muita gente alugava as suas residências no verão mudando-se para os sótãos ou habitações menores para alugar as suas casas mobiladas.
Claro que a guerra civil acabou com o nosso turismo espanhol, e marcou o início do fim dos vários hotéis então existentes nas Caldas. (…) Sem dúvida que essa periódica invasão pacífica espanhola teve alguma influência na nossa vida de pequena e pacata cidade. Eu ainda me lembro de críticas, embora envoltas na bruma dos anos, sobre a maneira de vestir, comportamentos etc. Ora acontece que os mais velhos criticam e os mais novos imitam, ou pelo menos adaptam ou tentam imitar.
(…) Influência dos refugiados, eu creio que houve e bastante. As críticas dos mais idosos foram dessa vez muito mais duras, porque as diferenças entre os que chegavam e os que estavam eram maiores. (…) Mas houve mudanças (...) , o facto é que Caldas ficou diferente da restante província circundante. Claro que houve colegas estrangeiros, lembro-me de dois a Elga e o Fernand. E no campo do desporto houve vários, o Clavari com o boxe, o Papa Urso com a ginástica (no Montepio), houve influência no ténis, etc. Houve quem casasse e ficasse e houve quem casasse e partisse. Permito-me citar a esposa do Dr. Costa e Silva e a “ Madame” Albuquerque, mais tarde professora universitária”.
(AJFL) Mesmo o autor destas linhas concorda que é em 40/45 que tudo se altera, reparem no “As críticas dos mais idosos foram dessa vez muito mais duras, porque as diferenças entre os que chegavam e os que estavam eram maiores.” Efectivamente as pacatas e conservadoras famílias espanholas que vinham a banhos para as Termas não tinham certamente hábitos nem valores muito diferentes dos locais.
“Mesmo depois da partida das refugiadas, as mulheres caldenses não ficaram em casa, já estavam habituadas a sair, fumar, frequentar locais públicos, não iam voltar para trás”(FV) são palavras que resumem bem as opiniões que ouvi. O filho de um vendedor (“viajante de tecidos”) confidenciou-me que “o meu Pai ficava mais tempo nas Caldas do que em qualquer outro local que visitava nos anos 50 porque a todas as horas havia muitas e bonitas mulheres na rua, não porque fizesse aqui mais negócio!”.
“As mulheres antes de 1940 não iam sozinhas nem às compras e passaram a ir a todo a lado e a encontrarem-se em público. Passaram também a usar sapatos mais altos, com “cunhas” de cortiça, saias mais curtas e leves, calças, fatos de banho sem saiotes, nada disto retrocedeu depois da saída dos refugiados, eram hábitos adquiridos. As Caldas eram conhecidas como a República das Mulheres!”(DªA). A acreditar em todos estes testemunhos as mudanças são, nestes aspectos, rápidas e duradouras.
Voltaremos seguramente a este tema, tão influente no ambiente em que vivemos e fomos educados entre 1945 e 1973 . Sei que há mais testemunhos e opiniões, ainda ontem o João Miguel me anunciava um depoimento de um colega, César Santos Gomes, que esteve presente no encontro de dia 17. Ficamos à espera.
Ficamos sempre a saber mais do que o que perguntamos, por exemplo que a esplanada do Parque era mais próxima do Casino, logo a seguir ao 1º portão de entrada e não ao 2º, que os cafés mais populares eram o Central, o Bocage e o Invicta (conhecido pelo “café do Saraiva”), e os refugiados e os seus amigos caldenses frequentavam muito os Olhos Pretos, posteriormente residencial mas na altura uma taberna onde até se cantava o fado.
Não cheguei a grandes conclusões sobre a relação entre a partida dos refugiados e a decadência do parque hoteleiro caldense, embora houvesse referências:
“A chegada dos refugiados veio trazer algum alento aos nossos hotéis permitindo-lhes sobreviver mais uns anos, poucos e sem grande brilho, pois não há um único sobrevivente há muito tempo.”(AJFL)
“Na ocasião os melhores hotéis em funcionamento eram o Rosa e o Central que tinham um ar muito acanhado e decrépito em contraste os Hotéis Lisbonense e da Copa (ficava na R. Miguel Bombarda, no quarteirão que antecede a R. das «Montras») cujas instalações abandonadas ainda aparentavam sinais de uma grande sumptuosidade passada (conheci os salões do Lisbonense em reuniões da comunidade católica e o Hotel da Copa por nele ter tido catequese! pois os quartos, já sem mobílias mas com casas de banho de imensas banheiras, comportavam folgadamente os conjuntos de catequistas e catequizados).” (JMAS)

Citei opiniões e depoimentos, escritos e orais, de Fernando Venda (FV), Dª. Anita (Dª A), António José Figueiredo Lopes (AJFL), José Carlos Nogueira (JCN), João Miguel Azevedo Santos (JMAS), Fernando Jorge Sousa (FJS), Paulinha Pardal (PP). Agradeço ainda a colaboração dos meus amigos Zeca Mesquita e Zita Sotto Mayor (alguém a reconheceu na foto acima?), cujas impressões e opiniões foram preciosas.

ASSALTOS DE CARNAVAL

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Os “assaltos” de Carnaval eram crimes premeditados com antecedência e pormenor. A escolha do local era o primeiro problema, já que poucas casas reuniam as condições que os permitissem.

A existência de um espaço relativamente autónomo, geralmente sótão ou garagem, restringia muito as alternativas, eliminando a maioria dos apartamentos em que vivíamos. Habitando um andar, e apesar de alguma permissividade dos meus pais (sempre houve bailaricos nas minhas festas de anos), nunca foi possível lá fazer bailes nocturnos no Carnaval.

Depois surgiam as questões administrativas, a burocracia necessária à realização do evento: licenças, autorizações, condições, regras, tudo sujeito a duras negociações, envolvendo cedências mútuas, com as autoridades locais, os donos da casa, pais da “vítima do assalto”.

Num dos Carnavais do final da década de 60 empenhei-me sobremaneira na organização de um desses eventos. A família da Aida, recém chegada às Caldas, não frequentava o Casino, pelo que um baile particular na sexta-feira de Carnaval era fulcral para uma aproximação que eu planeava há meses. Calma e calada, a garota que era alvo do meu interesse não demonstrava entusiasmo nem desagrado pelas minhas atenções, parecendo, mais que ignorá-las, não as perceber. Morava perto de mim, o que me permitia “encontrá-la casualmente” com frequência. Passei a visitá-la amiúde quando descobri que o seu irmão Jorge, um pouco mais velho que nós, e a irmã Mami, um ano mais nova, mantinham lá em casa frequentemente amigos a jogar, ler, ouvir música e estudar, o que fazia de mim apenas mais um. O Jorge era do tipo atlético, falávamos ocasional e amigavelmente, mas ele ligava pouco à música e aos livros, preferia andar de bicicleta (tinha uma que eu muito invejava), jogar futebol e principalmente correr, sem destino nem objectivo aparente, actividade cujo prazer eu não compreendia nem partilhava. A Mami, embora da estatura da irmã, era o oposto dela em tudo o resto. Os cabelos arruivados, curtos e revoltos contrastavam com a longa cabeleira “à Françoise Hardy” da Aida, tinha uma silhueta algo desengonçada enquanto a irmã era quase uma mulher, era faladora e metediça enquanto a outra era calma e calada.

A Mami absorvia tudo o que ouvia como uma esponja, chegou a discutir comigo os discos dos Beatles com os argumentos que me ouvira na conversa da véspera com um dos irmãos. Eu gostava de a irritar fingindo esquecer o seu nome e infantilizando-a:

- Oh Mámá, isto não são conversas para crianças…

Ou:

- Mámá já vestiste o pijama ao “chorão”? (um boneco espanhol muito popular nessa altura).

- Chamo-me Mariana, os amigos chamam-me Mami, mas para ti sou Mariana! E só tenho menos um ano do que tu, se sou uma criança, tu não és menos!

- Sim, Mimi, eu prometo lembrar-me disso…

Ela acabava por sair, furiosa, enquanto a Aida sorria, sempre plácida e tranquila, nunca interferindo nessas conversas, ouvindo-me depois falar-lhe de Jimi Hendrix, do livro da Pearl Buck que eu estava a ler, da transmissão do fantástico Beat Club alemão ao sábado na RTP… ela falava pouco, às vezes parecia gostar de me ouvir, outras parecia distraída e levantava-se para ir fazer outra coisa a meio de uma frase. Entre encorajadores mas enigmáticos sorrisos e momentos de desesperante alheamento, eu ia suspirando por acariciar aqueles sedosos e brilhantes cabelos que tanto me atraíam. Mas, ao longo de meses, ela continuava sem perceber, ou a fazer de conta que não percebia, as minhas atenções, e eu tinha decidido que esta questão não passava do Carnaval, época propícia à ultrapassagem destas indecisões.

- Estamos a organizar um baile de máscaras em casa da Isabel – disse-lhe, iniciando assim o meu plano – achas que podes ir?

- Julgo que sim, tenho que pedir à minha mãe…

- Eu também vou – decidiu a Mami – e escusam de começar com a conversa parva da minha idade!

- Mémé, não sejas assim, o baile é só para pessoas mais crescidas, não é para ti – respondi-lhe.

- Isso é que vamos ver. E é Mami, o meu nome é M-a-m-i.

Mas continuou calmamente o jogo de damas, as minhas brincadeiras já não a incomodavam tanto, principalmente quando jogávamos. A Aida não apreciava qualquer jogo e era a irmã que eu defrontava, até xadrez me obrigou a ensinar-lhe (e que fraco professor eu era…), nalgumas agradáveis tardes que lá passei em casa. Era inteligente, aprendia depressa e jogava tudo bem.

Ir ao baile implicava a escolha de uma máscara, o que era, para as raparigas, um assunto importante. Para a maioria dos rapazes não, qualquer trapalhice com a cara tapada servia. Eu, mais alto do que os meus colegas, nunca tive verdadeiramente hipótese de enganar ninguém mascarado pelo que não ligava ao assunto, usando uma máscara só para mostrar espírito carnavalesco. Mas a Aida, as amigas e as colegas levavam isso muito a sério, não deixando os rapazes, nem os irmãos, ver o que iam usar. Claro que o facto de lá ir a casa com frequência e a cumplicidade da Mami acabaram por me permitir ver o segredo da Aida, um vestido antigo a que tinham sido acrescentados uns folhos em papel celofane cor-de-rosa, imitando um vestido de "dama antiga". Vazio e pendurado num cabide era pouco convincente, como fez notar a desdenhosa Mami, perante a única fúria da Aida a que assisti!

- Tenho a certeza que, vestido por ti, será a toilette de uma verdadeira princesa! E essa caraça, tipo Maria Antonieta, fica aí "a matar"! - disse-lhe, para a acalmar.

Obrigou-me a prometer que não a desmascararia durante o baile, o que fiz sem qualquer reserva, já que tencionava obviamente guardar a informação só para mim!

Nessa semana que antecedia o Carnaval os preparativos aceleraram e as dúvidas dos pais da Isabel em ter um “assalto” em casa aumentaram, quando alguém se ofereceu para levar umas cervejas como contribuição para a festa… Afastado, sob palavra de honra, o espectro do álcool em sua casa, os senhores voltaram a autorizar.

Fiquei “pendurado” na tarde da quarta-feira anterior (a única que o horário nos deixava quase livre) por causa desses últimos preparativos. Joguei crapaud com a Mami, que ia massacrando a mãe com pedidos insistentes para ir também ao baile. Paciente mas firmemente, ela foi sistematicamente contrariando os variados e mirabolantes argumentos da sua filha mais nova, enquanto eu as ouvia, divertido. A senhora, que simpatizava comigo (talvez por entreter algumas horas por semana a sua problemática filha), ia-me pedindo auxílio na discussão, o que eu fiz com gosto. Mas foi o Jorge, recém-chegado de um dos seus corta-matos, que terminou a discussão:

- Nem te preocupaste em arranjar máscara, não podes ir a nenhum baile de Carnaval! - o que, sendo verdade, constituiu um argumento final e lhe valeu um olhar assassino….

Quase não vi a Aida e fui para casa sem conseguir dizer-lhe nada do que tinha planeado como introdução a uma declaração mais formal, dois dias depois. Quinta-feira, no Colégio, não foi igualmente possível fazê-lo porque nunca consegui estar a sós com ela, além de que ela estava constipada; um nariz entupido e avermelhado e uns olhos lacrimejantes não são propícios ao romance...

Sexta-Feira trocámos poucas palavras:

– Então e a constipação? – perguntei.

– Estou felizmente melhor, mas o meu pai, logo à noite, vai-me levar e buscar no carro dele, para não apanhar frio.

– Até logo, sendo assim encontramo-nos em casa da Isabel…

Fui jantar e vestir-me. Uma complicação familiar, envolvendo uma outra festa onde ia a minha irmã e a saída dos meus pais, atrasou-me imenso e cheguei muito mais tarde do que tinha programado. Mas felizmente a tempo já que, quando cheguei à porta, ainda correspondi a um aceno do pai da Aida, que se afastava no seu automóvel.

Entrei sem tirar a máscara, os pais da Isabel, que vigiavam a entrada, reconheceram-me e cumprimentaram-me imediatamente! A sala tinha as habituais serpentinas nos candeeiros e nos cortinados, confettis no chão e uma mesa com uma enorme toalha branca com os contributos dos convidados. Pousei uns croquetes e uns rissóis que a minha mãe me entregara e vi que o baile estava animado; procurei a Aida e vi que a minha "dama-antiga" dançava já umas brasileiradas na improvisada pista de dança. Enquanto esperava uma oportunidade de lhe falar, fui negociar com o Paulo, meu parceiro na tarefa de pôr discos, ficar livre neste início da noite, substituindo-o só depois de a Aida sair. Combinámos também que, mal eu conseguisse dançar com ela, ele poria a tocar “I Can’t Let Maggie Go” dos Honeybus, um slow irresistível que eu tivera o cuidado de incluir entre os discos disponíveis.



Aguardei uns minutos, a folia abrandou, a Aida reconheceu-me (porque eu lhe mostrara a minha caraça e pela altura, claro) e veio ter comigo, dando uma graciosa e inesperada volta à minha frente, mostrando-me como estava realmente elegante, mesmo vestida de celofane! Mal me aproximei dela o Paulo pôs a tocar a música combinada e eu descobri que ela era uma graciosa dançarina, mais disponível do que de costume para ouvir os meus elogios, que foi recebendo com alguns risos. O meu plano corria bem, o espírito de Carnaval e as máscaras desinibem sempre as pessoas! Outro slow se seguiu (o Paulo era um bom amigo), e outro, sem que ela fizesse qualquer menção de querer trocar de par, mas a pressão dos foliões acabou por obrigar o regresso da música mais animada. Nesse momento a Aida deu-me o braço e fez sinal de querer beber, era impossível falar porque o Paulo, terminados os slows, tinha outra vez a música muito alto, os donos da casa não tardariam em protestar. Eu conduzi-a em busca de um refresco, feliz com este inesperado e promissor início de festa (finalmente ela mostrava nítido prazer na minha companhia). Junto à mesa estava o seu irmão, o Jorge, que reconheci porque tirara a caraça para poder comer vigorosamente o que me pareceram os meus croquetes, e eu disse-lhe (ou melhor, gritei-lhe), apontando a Aida:

- Está muito bonita a tua irmã nesta máscara!

Ele aproximou-se do meu ouvido, para se fazer ouvir, e respondeu:

- Sim, fica-lhe realmente muito bem. E teve pouco tempo para se vestir, só à última hora eu convenci a minha mãe a deixá-la vir comigo, aproveitando o vestido da Aida, que ficou de cama, cheia de febre…
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João Jales

A INFLUÊNCIA DOS REFUGIADOS JUDEUS NA VIVÊNCIA SOCIAL E CULTURAL DAS CALDAS

A publicação da crónica “Movida Caldense” provocou uma chuva de reacções , testemunhos e opiniões sobre o papel dos refugiados judeus da Segunda Guerra Mundial no modo de viver caldense durante as décadas de 50 e 60. O que todos contestaram foi a aparente desvalorização que a crónica fazia da passagem pelas Caldas dos refugiados, no final dos anos 30 e início dos anos 40, e da sua influência no modo de vida caldense. Facto tanto mais curioso quanto esse não era o tema da crónica nem o objectivo da sua republicação, já que se pretendia caracterizar a vida cultural da altura e a perda de um certo glamour das Caldas , uma vitalidade do passado entretanto afogada num crescimento urbanístico subordinado à lógica empresarial da construção civil.
Antes de dedicar uma crónica às mensagens e testemunhos que recebi, resolvi enquadrar esta questão reproduzindo alguns excertos de dois documentos que consultei, da autoria de João Bonifácio Serra, o primeiro, e de Dulce Soure e Marina Ximenes, o segundo. JJ

João B. Serra em Apresentação da obra Judeus em Portugal durante a II Guerra de Irene Pimentel, 2006, escreve:

“A partir de Junho de 1940, Portugal foi procurado por milhares de judeus provenientes dos países europeus sob ocupação consumada ou iminente das tropas alemãs. Entre Junhode 1940 e Maio de 1941, passaram pelo País cerca de 40.000 pessoas em fuga de Hitler e do Holocausto.
Não ficaram todos em Lisboa e Estoril – alguns, por exemplo, foi nas Caldas que procuraram hotel – e muitos permaneceram pouco tempo, até obterem passagem para um país de destino final, de preferência os Estados Unidos. O Estado português deixou claro que não estava disposto a aceitar a integração de judeus emigrados na sociedade portuguesa e, por isso, aos que aqui tivessem de permanecer algum tempo, até poderem sair, ficava-lhes vedado desenvolver as suas profissões. O Estado receava a perturbação nos costumes, nas mentalidades e no mercado de trabalho que a integração de judeus vindo dos países mais desenvolvidos da Europa inevitavelmente traria. E no entanto, passaram por Portugal, nestes anos, entre muita gente anónima, personalidades destacadas das ciências e das letras, da medicina, realizadores e actores de cinema, figuras políticas, historiadores, ensaístas, compositores alemães, austríacos, franceses, polacos, e de outras nacionalidades (gregos, luxemburgueses, holandeses dinamarqueses, etc.), expulsas dos seus países. As zonas de residência criadas foram: Caldas da Rainha, Ericeira, Figueira da Foz e Curia.

Socorrendo-se das memórias de Alexandre Babo, no livro recordam-se “as esplanadas da Avenida ou do Rossio”, em Lisboa, onde se viam “franceses, belgas, holandeses, judeus dos mais remotos lugares”, e em especial a pastelaria Suiça, à qual
“já chamavam o “Bompernasse”, ali onde predominavam as mulheres (…) fumando em público (…). Tudo isto era um murro no estômago do provincianismo nacional. (…) Aquela gente aparentava outros hábitos, mais livres, mais naturais e abertos (…) sem olharem (elas) de soslaio os machos, sentadas nos cafés, nas cervejarias, nos passeios públicos, o que até então era apanágio exclusivo dos homes e de algumas mulheres ."
“Pelas esplanadas, sob largos chapeleirões de listas coloridas, as mesas alastram-se em formigueiros cosmopolitas. À volta, num pequeno espaço, ouve-se holandês, francês, inglês, polaco, checo e às vezes português (…). Elas são mais ruidosas, mais alegres,despreocupadas, em cabelo, farrapitos em molho no alto das cabeças loiras, fumam sempre, pernas traçadas num grande à vontade, mostrando o que se vê e o que se adivinha (…)” “O nosso Zé Povo embasbaca em frente dos grupos a admirar a civilização!”

A primeira notícia sobre a presença de refugiados nas Caldas surge (...) a 1 de Julho de 1940. Título “Ecos da Guerra – Os emigrados em Caldas da Rainha”. “Inesperadamente” – escreve-se na notícia – “automóveis estrangeiros começaram a parar nas ruas da cidade, enquanto muitos outros, atulhados de bagagens, se dirigiam para o sul. (…) Os hotéis ficaram cheios de estrangeiros: austríacos, ingleses, franceses, americanos, belgas e holandeses. (…) Gente estranha, de todos os credos políticos e de todas as religiões recolheram-se ao bom abrigo de um Portugal tranquilo, graças ao Estado Novo, a Carmona e a Salazar”.

Dulce Soure/Marina Ximenes em Marcas da II Guerra em Caldas da Rainha, exposição-colóquio,1998, escrevem:

A maioria dos refugiados não trabalhava e sentia, por isso, necessidade de ocupar o tempo excessivamente ocioso.
Adquiriram então o hábito de usufruir o sol no parque ou na praia da Foz do Arelho. “Íamos para o parque, sentávamo-nos ali, tomávamos o nosso cafezinho e, depois, vinham os estrangeiros nossos conhecidos. Sentavam-se ao pé de nós, conversávamos um bocado e às 6horas, 6h30 íamos para casa. Era uma vida estúpida…” (Madame Renée Costa e Silva)

Lentamente, foram-se integrando na sociedade e vida caldense, beneficiando do que a cidade lhes oferecia – o Parque, o Clube do Parque, as Termas. Em 1941, segundo uma notícia da Gazeta das Caldas, frequentaram esta estância 32 estrangeira, sendo 22 mulheres e 10 homens.

Também o Clube de Recreio abriu a porta a alguns destes estrangeiros, pessoas educadas e com traquejo social. A Comissão Administrativa do Clube, resolveu no dia 5 de Junho de 1943 “que além dos sócios do Recreio Clube, fossem feitos convites a pessoas estranhas àquele Clube, pessoas que a Comissão escolheria e determinaria (…).” (Livro de Actas das sessões da Comissão, pág.3.)

Dedicavam-se muito a
actividades desportivas, sobretudo ao ténis. Organizavam-se, de Maio a Outubro, uma série de torneios onde portugueses jogavam ao lado de estrangeiros.

“Comecei a jogar ténis por causa das raparigas. O engenheiro Júlio Lopes, o filho, desafiou-me para jogar. Havia duas irmãs, Denise e Monique Dunlap, de origem francesa e tenistas razoáveis. Os estrangeiros, como não tinham nada que fazer, iam jogar ou à Foz nadar” (Sr. Fernando Venda).

Calda da Rainha não desconhecia a guerra. Pelo contrário, ela foi aqui mais vivida e sentida do que na maioria das localidades portuguesas.

Caldas da Rainha estremeceu certamente perante todo o movimento de gente estranha que esgotou os seus hotéis e pensões e introduziu uma nova dinâmica na cidade.

Os caldenses experimentaram, como todos os portugueses, os aumentos dos preços dos géneros essenciais, a escassez dos mesmos, os racionamentos, os incómodos das bichas e os exercícios de defesa civil do território. Mas na memória dos que viveram nesse tempo ficou muito mais. Ficou a convivência com os estrangeiros e a descoberta de novos costumes, por eles introduzidos.

Foram sobretudo as mulheres as grandes introdutoras de alterações na vida e mentalidade dos caldenses. Imitando o comportamento das estrangeiras, as mulheres portuguesas saíram de casa, foram para os cafés e esplanadas, tiraram as meias e os chapéus e fumavam nas ruas.

“(…)É engraçado porque a mulher portuguesa nessa altura ficava em casa, aprendia costura, aprendia a falar francês e a tocar piano e pouco mais. (…)Os namoros eram de janela! Eu achei um piadão àquilo porque nunca tinha visto. (…)Eu acho que as Caldas foi uma terra que se modernizou mais depressa que as outras terras por causa dos estrangeiros” (Mme Renée Costa e Silva).

Por aqui passou a nata cultural e financeira da Europa. “Lembro-me que foi a modificação do ambiente social da cidade em relação àquela gente, que era gente educada, que era gente com uma vivência grande numa Europa modernizada” (Dr. Ernesto Moreira).

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Agradeço aos autores dos textos aqui transcritos a amável colaboração, ressalvando que é da minha exclusiva responsabilidade a escolha dos excertos apresentados.
Recordo que o centro da questão é a maior ou menor importância da presença dos refugiados numa determinada forma de viver nas Caldas nas décadas de 50 e 60 vs. outros factores como o Termalismo e os visitantes que atraiu, a existência de um Hospital e um Quartel, os veraneantes de Verão (Foz do Arelho e S. Martinho) ou outros que nos queiram apresentar.
Como disse recebemos aqui no Blog várias reacções sobre este assunto, que irei transcrever numa próxima crónica. Quem quiser ainda pronunciar-se sobre este tema pode ainda escrever-nos para ex.alunos.er@gmail.com , enviando testemunhos, opiniões, documentos, fotografias, tudo o que entender relevante.

VEM AÍ MAIS UMA EXCURSÃO!

Chegaram mais duas fotografias da Excursão a Ceuta em 1966, num
momento em que preparamos já a apresentação da Excursão dos Finalistas de 1965.
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Excursão de Finalistas de 1966 . Sierra Nevada, 15-04-66, esta é uma
parte do grupo subindo, a pé, a estrada interrompida pela neve.
Excursão de Finalistas a Ceuta em 1966. (13-04-66)


(Fotografias da colecção da Manuela Vieira Pereira)
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A Excursão de 1965 foi alvo de muita curiosidade e atenção já que se dizia ter sido a primeira viagem dos finalistas do ERO a Espanha (veremos mais tarde que não é assim, há pelo menos uma viagem de finalistas a Espanha nos anos 50).
A expectativa com que é aguardada prende-se com o facto de ser, entre todas as viagens documentadas, a que tem mais fotografias disponíveis, graças às colaborações da Júlia Ribeiro, Dario, João Rodrigues Lobo e Isabel Vieira Pereira, cuja “chegada” ao Blog quero aqui saudar. Junta-se à irmã Manela, que colaborou no texto que vai acompanhar as referidas fotos e que (um pouco atrasada…) juntou mais duas fotos da viagem a Ceuta (e que abrem este artigo).

Por falar em viagem a Ceuta, já alguém reparou que esse filme ultrapassou os QUATROCENTOS visionamentos no You Tube? E sabiam que, além de o verem, podem acrescentar comentários? Chamo a atenção para isto porque os excursionistas não o têm feito, deixando espaço a alguns “garotos” mais novos para mandarem umas bocas parvas… É bem feito, para aprenderem a ser mais participativos. Ainda estão a tempo, basta irem a

e escrever o que entenderem apropriado, em vez das “baboseiras” que lá estão.


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Se tenho direito a um momento de nostalgia pessoal (integrando-me no que chamam, com graça, "light Blog"), direi que a grande satisfação de ter aqui a colaboração da Manela e da Isabel V P tem uma explicação antiga, bem expressa nesta fotografia, tirada há 51 anos. JJ


O BLOG FOI NOTÍCIA NO JORNAL DAS CALDAS

Esta semana fomos notícia no "JORNAL DAS CALDAS".
Se quiserem ler a reportagem basta clicar sobre a imagem
e terão a página do jornal em tamanho grande.
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Foi com esta mensagem que agradecemos a atenção:

Caros Srs.
Registámos com muito agrado o artigo do vosso colaborador Francisco Gomes sobre o nosso Blog (Antigos Alunos do Externato Ramalho Ortigão) . Os excertos que fez dos textos e a forma desenvolta como o artigo é apresentado representam bem o espírito do espaço que criámos e cuja divulgação agradecemos.
Sempre à vossa disposição para qualquer esclarecimento ou colaboração, subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos

EX.ALUNOS.ERO

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comentários
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2008-02-14
São Caixinha disse:
Olá João!
Que engraçado...o blog faz notícias e com razão! Esta folhinha do Jornal das Caldas teve hoje muito mais interesse do que o Telegraaf inteiro...e surpreendemente também somos mencionadas...!!! Os meus parabéns e os meus agradecimentos pelo envio do artigo, de outro modo, lembrando o Andy Warhol, passavam os meus 15 minutos de fama e nem chegava a saber!!! Bjs São X

OS "CALDENSES"

DA ESQUERDA PARA A DIREITA COMEÇANDO POR TRÁS:
Mário Gonçalves, Adriano Fidalgo dos Reis, Leitão, Silva Nobre, Elmano Sá, Serrão Mendes, ? , Davis Frazão, Zé Filipe Batalha, Mário Moreira,Eugénio Claro Claro Branco Lisboa, Mesquita de Oliveira .
LIGEIRAMENTE ABAIXO (casaco claro): António José Rodrigues Borges
3ª FILA :
? , ? , Júlio Manuel Paramos Baptista de Carvalho, ? , Manuel Simões Teixeira, Nuno Cunha, António Marques Matos (alcunha Óbidos) , Armando Castro, António José Figueiredo Lopes,Jorge Caetano Venâncio, Artur Paulo Rodrigues , (+alto) ? , Varela.
PROFESSORES:
Carlos Silva, Manuela Santos, Macedo, Silveira, José Abrunhosa, Tavares(?) , Major Alves, Padre Tedoro
SENTADOS
?, ?, ?, ?, ?, Raul Neto,?.
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(A IDENTIFICAÇÃO INSCRITA ACIMA DA FOTOGRAFIA É DO ANTÓNIO JOSÉ FIGUEIREDO LOPES, QUE PEDE INFORMAÇÕES SOBRE MUITOS DESTES COLEGAS QUE NÂO VÊ HÁ MUITO TEMPO.
O EMAIL ex.alunos.ero@gmail.com ESTÁ DISPONÍVEL PARA ESSAS INFORMAÇÕES)

No artigo anterior mostrámos as alunas do Lusitano passeando-se alegremente no Parque. Esta fotografia mostra o exclusivamente masculino Caldense nesse mesmo ano lectivo de 1944/45, com os seus alunos, bem mais tristes e sorumbáticos, nas instalações da Miguel Bombarda.

Este é o pátio do edifício, que servia de recreio e, pelos vistos, de estúdio fotográfico, já que é sempre neste local que posam os "artistas" do Caldense e , a partir de Outubro de 1945, os do Externato Ramalho Ortigão.

Desta vez não há legendagem inicial, o desafio é identificar todos os intervenientes a partir dos vossos comentários. Mesmo que conheçam só um ou dois, enviem um email para

Reunidas todas as contribuições deveremos ter uma legendagem completa.

Já reconheci o professor Macedo (bigode inconfundível) que era o tal grande galã caldense. Pelos vistos dava aulas nos dois colégios, embora com mais empenho e dedicação no Lusitano, pelo que me contam...
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IDENTIFICAÇÕES:
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Professores
O 1º da esquerda é o professor de canto coral Carlos Silva (era padrinho do Pardal e tinha uma colecção de tinteiros das Faianças Belo que deve ter deixado ao afilhado…. Olha..hoje vale dinheiro… não sei se ele a terá vendido .. o Joca Raposa chamava-lhe um figo !!!)
Logo a seguir é a D. Manuela Santos, professora primária que ainda deu aulas no ERO. Tinha um irmão mais velho ligado à fábrica Bordalo Pinheiro e um mais novo Jorge , de alcunha “Sardeca”. A Srª era tal e qual como está no retrato …. Com uns óculos muito grossos e uns sapatos que eram umas bateiras…. (Coitada devia ter joanetes ihihih ……isso já não me lembro) e bastante rezingona……
O 1º da direita é o padre Zé Teodoro e logo a seguir a ele acho que é o Major Alves (será que ele era Major?) marido da Cândinha Alves. Bjs Ana
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Professores:
O 3º professor a contar da esquerda, parecido com o Tonico Bastos, é o professor Macedo (História). A seguir está o prof Silveira (Latim). Ao meio o Director, Dr. José Abrunhosa. Só falta identificar um professor ... e os alunos todos!
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Professores:
A Sra. D. Manuela Santos deve ter dado aulas no ERO até ao fim do ano lectivo de 63/64, pois a 1 de Outubro de 64, na abertura do ano lectivo, foi alvo de uma homenagem. Isabel V. P.